Porque é que o cancro da mama atinge mais agressivamente umas mulheres do que outras? A resposta a estas questões pode estar no trabalho que quatro equipas de cientistas do Instituto de Medicina Molecular (iMM), em Lisboa, estão a realizar
O tempo não para nos laboratórios do Instituto de Medicina Molecular (iMM), em Lisboa. É ali que quatro projetos promissores em descobertas mundiais estão a ser desenvolvidos por investigadores que acreditam que a resposta para combater o cancro da mama pode estar na genética e no sistema imunitário. E à pergunta "para quando resultados?", a resposta é unânime: "Em ciência não há tempos. É preciso muita paciência", dizem-nos. O que só aumenta ainda mais a pressão, já que falamos da doença que mais atinge as mulheres em todo o mundo.
O relatório da OCDE "Health at glance: Europe 2016" deixa um alerta: "Uma em cada nove mulheres vai ter um cancro da mama e um terço vai morrer dele." Em Portugal, segundo dados fornecidos pela associação Laço, a doença regista todos os anos cerca de 6000 novos casos e 1500 mortes. Mas, de acordo com o documento da OCDE, também somos dos países que conseguiram reduzir a mortalidade nos últimos anos, o que pode ter que ver com o facto de cerca de 80% da população feminina estar rastreada - no resto da Europa só acontece entre 54% e 63% - e de grande percentagem de tumores ser detetada em fase inicial. Para os especialistas, a deteção precoce tem sido a chave para o sucesso no combate à doença, mas não chega. Os bons resultados alcançados não permitiram reduzir os cerca de 30% de mulheres que há muito continuam a morrer com cancro de mama metastizado. E esta é uma das cruzadas que a investigação científica tem agora pela frente: perceber por que há mulheres em que o tumor metastiza, ou seja, em que as células tumorais acabam por invadir outros órgãos além da mama, e outras não. Mas a esta cruzada associam-se outras, como a de perceber por que razão há mulheres que desenvolvem tumores mais agressivos do que outras, porque é que o sistema imunitário de umas responde melhor do que o de outras no combate à doença, até à possibilidade de identificar um teste genético que dê a cada uma um tratamento personalizado, de acordo com o tumor que desenvolveram e livrando-as de certas terapêuticas desnecessárias.
A presidente da associação Laço, Lynne Archibald, acredita que esta cruzada pela cura do cancro da mama pode estar no laboratório, no estudo das células e do ADN. "É preciso regressar ao laboratório, à origem de tudo. Só assim se poderá tornar o combate da doença mais eficaz. É nisso que acreditamos."