* Cantinho Satkeys

Refresh History
  • Radio TugaNet: boas tardes
    Hoje às 13:14
  • FELISCUNHA: dgtgtr   49E09B4F  e bom fim de semana  4tj97u<z
    11 de Outubro de 2025, 12:06
  • JPratas: try65hytr Pessoal  49E09B4F 2dgh8i k7y8j0 yu7gh8
    10 de Outubro de 2025, 03:59
  • FELISCUNHA: ghyt74  pessoal  4tj97u<z
    08 de Outubro de 2025, 11:44
  • joca34: ola amigos boas noite alguem este cd Disco Festa Portuguesa (Ao Vivo)
    07 de Outubro de 2025, 22:45
  • pxsofficial: alguem ainda tem o Mega Pack de Filmes Infantis Dublados PT-PT
    07 de Outubro de 2025, 21:22
  • FELISCUNHA: ghyt74   49E09B4F  Votos de um santo domingo para todo o auditório  4tj97u<z
    05 de Outubro de 2025, 11:03
  • j.s.: um santo domingo  49E09B4F
    05 de Outubro de 2025, 10:52
  • j.s.: ghyt74 a todos  49E09B4F
    05 de Outubro de 2025, 10:52
  • gitzbeka: tivi mate
    04 de Outubro de 2025, 18:21
  • FELISCUNHA: ghyt74   49E09B4F  e bom fim de semana   4tj97u<z
    03 de Outubro de 2025, 11:42
  • JPratas: try65hytr Pessoal  4tj97u<z 2dgh8i k7y8j0 yu7gh8
    03 de Outubro de 2025, 03:07
  • j.s.: dgtgtr a todos  4tj97u<z
    02 de Outubro de 2025, 16:26
  • FELISCUNHA: ghyt74  49E09B4F  e bom fim de semana  4tj97u<z
    27 de Setembro de 2025, 11:08
  • Radio TugaNet: bom dia Pessoal
    27 de Setembro de 2025, 08:45
  • j.s.: tenham um excelente fim de semana  4tj97u<z
    26 de Setembro de 2025, 19:18
  • j.s.: try65hytr a todos 49E09B4F
    26 de Setembro de 2025, 19:18
  • JPratas: try65hytr Pessoal  4tj97u<z k7y8j0 yu7gh8
    26 de Setembro de 2025, 03:18
  • FELISCUNHA: henrike enviei PM
    24 de Setembro de 2025, 12:38
  • FELISCUNHA: ghyt74  pessoal   49E09B4F
    22 de Setembro de 2025, 11:43

Autor Tópico: A moça mostrava a coxa  (Lida 1962 vezes)

0 Membros e 4 Visitantes estão a ver este tópico.

casconha

  • Visitante
A moça mostrava a coxa
« em: 30 de Setembro de 2013, 14:27 »


A moça mostrava a coxa,
a moça mostrava a nádega,
só não mostrava aquilo
– concha, berilo, esmeralda –
que se entreabre, quatrifólio,
e encerrra o gozo mais lauto,
aquela zona hiperbórea,
misto de mel e de asfalto,
porta hermética nos gonzos
de zonzos sentidos presos,
ara sem sangue de ofícios,
a moça não me mostrava.
E torturando-me, e virgem
no desvairado recato
que sucedia de chofre
á visão dos seios claros,
qua pulcra rosa preta
como que se enovelava,
crespa, intata, inacessível,
abre-que-fecha-que-foge,
e a fêmea, rindo, negava
o que eu tanto lhe pedia,
o que devia ser dado
e mais que dado, comido.
Ai, que a moça me matava
tornando-me assim a vida
esperança consumida
no que, sombrio, faiscava.
Roçava-lhe a perna. Os dedos
descobriam-lhe segredos
lentos, curvos, animais,
porém o maximo arcano,
o todo esquivo, noturno,
a tríplice chave de urna,
essa a louca sonegava,
não me daria nem nada.
Antes nunca me acenasse.
Viver não tinha propósito,
andar perdera o sentido,
o tempo não desatava
nem vinha a morte render-me
ao luzir da estrela-d'alva,
que nessa hora já primeira,
violento, subia o enjoo
de fera presa no Zôo.
Como lhe sabia a pele,
em seu côncavo e convexo,
em seu poro, em seu dourado
pêlo de ventre! mas sexo
era segredo de Estado.
Como a carne lhe sabia
a campo frio, orvalhado,
onde uma cobra desperta
vai traçando seu desenho
num frêmito, lado a lado!
Mas que perfume teria
a gruta invisa? que visgo,
que estreitura, que doçume,
que linha prístina, pura,
me chamava, me fugia?
Tudo a bela me ofertava,
e que eu beijasse ou mordesse,
fizesse sangue: fazia.
Mas seu púbis recusava.
Na noite acesa, no dia,
sua coxa se cerrava.
Na praia, na ventania,
quando mais eu insistia,
sua coxa se apertava.
Na mais erma hospedaria
fechada por dentro a aldrava,
sua coxa se selava,
se encerrava, se salvava,
e quem disse que eu podia
fazer dela minha escrava?
De tanto esperar, porfia
sem vislumbre de vitória,
já seu corpo se delia,
já se empana sua glória,
já sou diverso daquele
que por dentro se rasgava,
e não sei agora ao certo
se minha sede mais brava
era nela que pousava.
Outras fontes, outras fomes,
outros flancos: vasto mundo,
e o esquecimento no fundo.
Talvez que a moça hoje em dia...
Talvez. O certo é que nunca.
E se tanto se furtara
com tais fugas e arabescos
e tão surda teimosia,
por que hoje se abriria?
Por que viria ofertar-me
quando a noite já vai fria,
sua nívea rosa preta
nunca por mim visitada,
inacessível naveta?
Ou nem teria naveta...



Carlos Drummond de Andrade