O senhor que deu o nome ao fontismo
Três vezes primeiro-ministro, militar destacado nas tropas do duque de Saldanha, António Maria Fontes Pereira de Melo foio precursor da civilização do país: estradas, correios, telégrafo e comboios fazem parte da revolução que trouxe a um país subdesenvol
Fontes Pereira de Melo criou o Ministério das Obras Públicas, fez estradas num tempo em que Portugal andava de burro, construiu a primeira linha de caminho-de-ferro, que ligava Lisboa ao Carregado, instalou o telégrafo, inaugurou o telefone e desenvolveu os correios. Numa ironia perversa, o seu nome deu origem a um substantivo que geralmente é usado de forma pejorativa: o fontismo. Cavaco Silva, Sócrates e quase todos os autarcas do país foram em algum momento alvo de críticas pelas suas políticas fontistas. Mas Fontes Pereira de Melo não merecia que o seu nome - homenageado numa das principais ruas de Lisboa, a que liga o Marquês de Pombal à Praça Duque de Saldanha, seu amigo e chefe militar na guerra civil na sequência da revolta da Maria da Fonte - se tivesse transformado, senão num insulto político, numa crítica acintosa.
Menos conhecida que as suas obras públicas é a sua defesa da liberdade de imprensa. Fontes Pereira de Melo tinha 29 anos e era deputado quando esteve em discussão nas Cortes a lei de imprensa de Costa Cabral. O seu discurso é um bocadinho como os livros do Eça de Queiroz: descontando a ausência de televisão e telemóveis, mantém uma esplêndida actualidade. Assim falou o deputado Fontes nesse debate dos dias 11 e 12 de Março de 1850: "Diz a ilustre comissão que não quer ferir a liberdade, mas evitar que ela morra - muito bem, é o que sempre têm dito aqueles que pretenderam agrilhoar a imprensa." Houve muitos aplausos na discussão da lei, que ficaria conhecida como Lei da Rolha e seria aprovada em Agosto seguinte.
É irresistível transcrever mais um bocadinho do discurso fontista em defesa da liberdade de imprensa para perceber como mudámos muito pouco, apesar dos computadores e dos briefings: "É uso antigo queixarem-se os governos da liberdade de imprensa. Os governos queixam-se porque é sempre desagradável ao homem que está nas altas regiões do poder ver que o jornalista lhes pode notar publicamente os seus erros, os seus defeitos, muitas vezes a sua incapacidade, e a inconveniência que resulta dos seus actos: não há ninguém que esteja colocado nesta posição que não leia de mau grado as censuras que se lhe fazem. Declaro que estou muito longe de aprovar a linguagem licenciosa que se tem empregado em muitos jornais, não só em Portugal, mas em outros países, porém não quero, nem hei-de contribuir de maneira alguma, para que, com o pretexto de matar este abuso licencioso, e condenável, vamos assassinar a preciosa liberdade da comunicação do pensamento."
três vezes primeiro-ministro Apesar de a imagem que ficou para a história ter sido a fundação do Ministério das Obras Públicas, António Maria Fontes Pereira de Melo foi, três vezes, primeiro-ministro em governos efémeros. Chefiou a 13 de Setembro de 1871 o seu primeiro governo, quando o Partido Regenerador voltou ao poder. Um ano depois o governo caiu. Em 1878 volta a encabeçar novo governo, que, tal como o anterior, só dura um ano - sucede-lhe o senhor Braamcamp, homenageado numa rua vizinha de Lisboa. O seu último governo dura cinco anos (1881-1886). Fontes morre aos 68 anos, um ano depois de deixar de ser primeiro-ministro.