* Cantinho Satkeys

Refresh History
  • FELISCUNHA: Votos de um santo domingo para todo o auditório   4tj97u<z
    30 de Novembro de 2025, 12:06
  • j.s.: tenham um excelente fim de semana  :smiles_natal:
    29 de Novembro de 2025, 14:19
  • j.s.: dgtgtr a todos  :13arvoresnatalmagiagifs:
    29 de Novembro de 2025, 14:18
  • FELISCUNHA: ghyt74   49E09B4F  e bom fim de semana  4tj97u<z
    29 de Novembro de 2025, 11:37
  • cereal killa: try65hytr pessoal ja cheira a prendas  erfb57j p0i8l
    28 de Novembro de 2025, 22:04
  • JPratas: try65hytr Pessoal  2dgh8i k7y8j0 classic
    28 de Novembro de 2025, 05:14
  • FELISCUNHA: ghyt74  pessoal   k8h9m
    27 de Novembro de 2025, 11:42
  • j.s.: try65hytr a todos  4tj97u<z
    24 de Novembro de 2025, 20:57
  • FELISCUNHA: Votos de um santo domingo para todo o auditório  4tj97u<z
    23 de Novembro de 2025, 11:57
  • euro: Clube de Baile
    22 de Novembro de 2025, 17:55
  • cereal killa: dgtgtr pessoal inimigo  k8h9m ta um calor do karago  RGG45wj
    21 de Novembro de 2025, 15:46
  • FELISCUNHA: ghyt74   49E09B4F  e bom fim de semana  4tj97u<z
    21 de Novembro de 2025, 11:49
  • JPratas: try65hytr Pessoal  2dgh8i  classic k7y8j0 yu7gh8
    21 de Novembro de 2025, 03:37
  • j.s.: try65hytr a todos  4tj97u<z 4tj97u<z
    20 de Novembro de 2025, 19:14
  • FELISCUNHA: dgtgtr  pessoal   49E09B4F
    19 de Novembro de 2025, 12:09
  • j.s.: ghyt74 a todos  4tj97u<z 4tj97u<z
    18 de Novembro de 2025, 11:39
  • sacana10: Bom Dia a todos....
    15 de Novembro de 2025, 11:43
  • FELISCUNHA: ghyt74 pessoal   49E09B4F
    13 de Novembro de 2025, 09:46
  • j.s.: tenham um excelente fim de semana  49E09B4F
    08 de Novembro de 2025, 16:19
  • j.s.: dgtgtr a todos  4tj97u<z
    08 de Novembro de 2025, 16:18

Autor Tópico: A moça mostrava a coxa  (Lida 2008 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão a ver este tópico.

casconha

  • Visitante
A moça mostrava a coxa
« em: 30 de Setembro de 2013, 14:27 »


A moça mostrava a coxa,
a moça mostrava a nádega,
só não mostrava aquilo
– concha, berilo, esmeralda –
que se entreabre, quatrifólio,
e encerrra o gozo mais lauto,
aquela zona hiperbórea,
misto de mel e de asfalto,
porta hermética nos gonzos
de zonzos sentidos presos,
ara sem sangue de ofícios,
a moça não me mostrava.
E torturando-me, e virgem
no desvairado recato
que sucedia de chofre
á visão dos seios claros,
qua pulcra rosa preta
como que se enovelava,
crespa, intata, inacessível,
abre-que-fecha-que-foge,
e a fêmea, rindo, negava
o que eu tanto lhe pedia,
o que devia ser dado
e mais que dado, comido.
Ai, que a moça me matava
tornando-me assim a vida
esperança consumida
no que, sombrio, faiscava.
Roçava-lhe a perna. Os dedos
descobriam-lhe segredos
lentos, curvos, animais,
porém o maximo arcano,
o todo esquivo, noturno,
a tríplice chave de urna,
essa a louca sonegava,
não me daria nem nada.
Antes nunca me acenasse.
Viver não tinha propósito,
andar perdera o sentido,
o tempo não desatava
nem vinha a morte render-me
ao luzir da estrela-d'alva,
que nessa hora já primeira,
violento, subia o enjoo
de fera presa no Zôo.
Como lhe sabia a pele,
em seu côncavo e convexo,
em seu poro, em seu dourado
pêlo de ventre! mas sexo
era segredo de Estado.
Como a carne lhe sabia
a campo frio, orvalhado,
onde uma cobra desperta
vai traçando seu desenho
num frêmito, lado a lado!
Mas que perfume teria
a gruta invisa? que visgo,
que estreitura, que doçume,
que linha prístina, pura,
me chamava, me fugia?
Tudo a bela me ofertava,
e que eu beijasse ou mordesse,
fizesse sangue: fazia.
Mas seu púbis recusava.
Na noite acesa, no dia,
sua coxa se cerrava.
Na praia, na ventania,
quando mais eu insistia,
sua coxa se apertava.
Na mais erma hospedaria
fechada por dentro a aldrava,
sua coxa se selava,
se encerrava, se salvava,
e quem disse que eu podia
fazer dela minha escrava?
De tanto esperar, porfia
sem vislumbre de vitória,
já seu corpo se delia,
já se empana sua glória,
já sou diverso daquele
que por dentro se rasgava,
e não sei agora ao certo
se minha sede mais brava
era nela que pousava.
Outras fontes, outras fomes,
outros flancos: vasto mundo,
e o esquecimento no fundo.
Talvez que a moça hoje em dia...
Talvez. O certo é que nunca.
E se tanto se furtara
com tais fugas e arabescos
e tão surda teimosia,
por que hoje se abriria?
Por que viria ofertar-me
quando a noite já vai fria,
sua nívea rosa preta
nunca por mim visitada,
inacessível naveta?
Ou nem teria naveta...



Carlos Drummond de Andrade