Há uma semana, Portugal acordava com a notícia da tragédia. Em Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera não se dormiu nessa noite de sábado - a apagar as chamas, de vigia às labaredas, a fugir ao fogo e a chorar os mortos. Passou uma semana e as populações tentam recuperar, a varrer e a limpar. Esperam a chuva para lavar as cinzas que continuam a entrar em casa. Mas a normalidade a que se forçam é quebrada pelos funerais que ainda se realizam: morreram 64 pessoas. E as sirenes dos bombeiros continuam a tocar.
As florestas e campos poderiam parecer vulcões extintos não fossem os troncos e ramos negros, com uma lava escura, terra pastosa e preta, colunas de fumo aqui e ali. Mantém-se o cheiro a queimado. Mas é preciso enterrar os mortos. Há funerais em Vila Facaia e Graça (Pedrógão Grande), Sarzedas de São Pedro (Castanheira de Pera) e Figueiró dos Vinhos. Este último concelho tem São João como padroeiro, ontem foi feriado municipal, mas as festas foram canceladas.
Albano Morgado, dono da fábrica de lanifícios com o mesmo nome em Sarzedas de São Pedro, prepara-se para reiniciar amanhã a atividade, para já com 76 funcionários, menos dez do que habitualmente. Três morreram e os restantes são familiares das vítimas. "Se restabelecerem as comunicações, porque nunca mais tivemos comunicações desde sábado. E hoje em dia não conseguimos funcionar sem e-mails." Nem acredita que escapou, que a sua empresa pareça "um oásis" no meio de habitações, armazéns, vegetação, carros e pesados queimados.