O serviço mais antigo, proporcionado pela Associação dos Servitas de Nossa Senhora de Fátima, é o de lava-pés e, este ano, já deram assistência a 234 peregrinos. O posto de socorro do Santuário oferece apoio médico aos devotos e costuma chegar a cerca de 700 pessoas só nos três dias de celebrações de maio (de 10 a 13).
Em ano de visita papal, a equipa foi reforçada com 24 médicos e 24 enfermeiros para atender a uma maior procura. O posto de socorros funcionará em permanência nos próximos dois dias, até porque, dita a experiência, a maior afluência de peregrinos necessitados de cuidados de saúde sentir-se-á a partir da madrugada de sexta-feira.
"Temos um banco de urgência de pequena dimensão para resolver situações de menor gravidade, de imediato, evitando que os doentes tenham de deslocar-se aos hospitais de Leiria e de Torres Novas", indica Rui Correia de Oliveira, sublinhando que, em situações agudas, o peregrino é estabilizado pela equipa médica na urgência do posto, antes de seguir para as unidades hospitalares da região.
Tal como as nacionalidades de quem procura assistência, também as patologias são muito distintas. "Somos muito generalistas nessa matéria. Socorremos pessoas com doenças pré-adquiridas, como doenças cardíacas ou diabetes, que entram em crise provocada pelo cansaço ou pela emoção. Depois, há situações súbitas, pequenos acidentes...A panóplia de patologias é vasta", assinala. A diferença está que ali não há utentes, há peregrinos. "Antes de ser um doente, é um peregrino". E essa condição, afiança o responsável, distingue-os. "O ambiente psicológico no atendimento ao doente é diferente de outros serviços de saúde" por causa disso.
Acalmia nos corredores
A acalmia ainda domina os corredores. Muitas pessoas que palmilham o caminho da fé nas estradas até Fátima só chegam esta madrugada de sexta-feira. Outros, cientes da escassez de alojamento, fazem-se à autoestrada de carro ou de camioneta no próprio dia.
Arminda, peregrina vinda de Vila do Conde, sucumbiu às dores nas pernas e nos pés, flagelados por bolhas após quatro dias de caminhada e a cerca de 40 quilómetros do destino. "Foi a minha primeira vez e não aguentei. Já não conseguia mover as pernas. O frio e a chuva também não ajudaram. Mas fui muito bem tratada", confidencia, estendida na maca, ladeada pelo marido que veio buscá-la de automóvel. Arminda já não vê o Papa Francisco. As ordens do médico serão cumpridas e irá repousar para casa.
Nas salas do serviço de lava pés, as cadeiras com toalhas coloridas penduradas alinham-se defronte às pias de aço. "É o ponto de chegada depois de uma longa caminhada, feita com dor e cansaço. Há peregrinos que ficam em silêncio, outros despejam o coração, enquanto decorre a operação de enfermagem", retrata Rui Correia de Oliveira. As mazelas são menores do que no passado. Preparam-se melhor para a viagem, com calçado de qualidade, e encontram postos de auxílio pelo caminho que evitam, muitas vezes, o agudizar das lesões.
Os Servitas ajudam os peregrinos desde 1917. Reconhecendo a valia do trabalho dos voluntários, o bispo de Leiria criou, formalmente, a associação em 1924. Atualmente, tem mais de 400 associados.