Donald Trump também reclama marco histórico ao sublinhar que nunca, nas primárias, uma candidatura republicana conseguiu tantos votos
Dorothy Rodham nasceu a 4 de junho de 1919, precisamente no dia em que o Senado norte-americano votou favoravelmente a 19.ª emenda à Constituição dos Estados Unidos. As mulheres passavam dessa forma a ter direito de voto e, 95 anos mais tarde, a filha de Dorothy faria história. Hillary tornou-se ontem a primeira mulher a ser escolhida por um dos dois maiores partidos para ser candidata presidencial.
Depois desta minissuperterça-feira - em que venceu quatro dos seis estados que foram a votos, incluindo a gigante Califórnia - Hillary Clinton ultrapassou a barreira dos 2383 delegados necessários para garantir a nomeação pelo Partido Democrata, totalizando neste momento 2755.
Mesmo perante as evidências matemáticas, o seu adversário não parece disposto a atirar a toalha ao chão. Bernie Sanders, depois de terem sido conhecidos os resultados de terça-feira, garantiu que irá batalhar por todos os votos na primária da próxima semana, em Washington, e que levará a luta até à Convenção do partido - que decorrerá entre 25 e 28 de julho em Filadélfia.
Sanders parece continuar em negação, sem querer aceitar que o sonho que chegou a parecer possível já foi desfeito pela frieza dos números. "Num discurso de uma teimosia incrível, ignorou o feito da sua adversária e foi preciso esperar 15 minutos até que referisse o nome de Clinton", podia ler-se ontem num artigo no The New York Times.
O rival interno de Hillary argumenta que a vantagem da ex-primeira dama se deve principalmente aos superdelegados (571 contra 48) e que estes podem ainda mudar de opinião durante a reunião magna do partido que ditará o nomeado democrata.
Ainda assim, a vantagem que Hillary acumulou desde o início das primárias é mais do que decisiva e neste momento lidera em todos os campos: tem mais três milhões de votos do que Sanders, mais 380 delegados, mais 523 superdelegados (2 184 contra 1 804) e levou a melhor em 32 das 55 votações realizadas.
É muito mais aquilo que afasta Sanders de Hillary do que aquilo que afastava Hillary de Obama em 2008. Quando a ex-primeira dama decidiu sair da corrida, deixando o caminho totalmente aberto para aquele que viria a ser o primeiro presidente negro dos EUA, a distância entre um e outro era de 131 delegados e 105 superdelegados .
"Todos sabemos que esta tem sido uma luta muito dura, mas o Partido Democrata é uma família e agora é tempo de restaurar os laços que nos mantêm juntos", afirmou Hillary no fim da batalha contra Obama. Foi a 7 de junho de 2008 que proferiu estas palavras.
Oito anos volvidos, precisamente na mesma data, a filha de Dorothy conseguiu reunir os delegados necessários para ser ela quem tentará disputar a presidência contra Donald Trump. "Que não haja dúvidas. O senador Sanders, a sua campanha e os vigorosos debates que tivemos foram muito bons para o Partido Democrata e para a América", sublinhou Clinton, depois de se congratular pelo marco histórico que tinha acabado de conseguir.
Do lado dos republicanos, Donald Trump, já sem adversários, venceu as cinco primárias republicanas com mais de 65% de aprovação em todos os estados. Também ele reclamou para si um pedaço de história: "Conseguimos mais votos do que qualquer outra candidatura às primárias republicanas".
Mas nesta semana os holofotes são de Hillary. Pela primeira vez, no seio de um dos dois maiores partidos, uma mulher reuniu os apoios necessários para ser candidata.
Para chegar até aqui, outras mulheres, ao longo da história, pavimentaram o caminho que Hillary agora percorreu até à última paragem. Foi o caso de Shirley Chisholm (1924-2005), que em 1972 se tornou a primeira mulher a concorrer às primárias do Partido Democrata - Richard Nixon viria a conseguir a nomeação. Mas já antes disso Shirley tinha quebrado barreiras, quando, em1968, se tornou a primeira mulher afro-americana a ser eleita para o congresso.
Outra das antecessoras de Hillary Clinton foi Margaret Chase Smith (1897-1995). Em 1964 candidatou-se às primárias republicanas. Não venceu em nenhum estado, mas chegou até à convenção e fez com que pela primeira vez o nome de uma mulher aparecesse na lista de possíveis candidatos. Lyndon B. Johnson seria o nomeado.
Geraldine Ferraro (1935-2011) foi outra das democratas a fazer história. Nas eleições de 1984, foi a primeira mulher a aparecer como candidata a vicepresidente. Fez campanha ao lado de Walter Mondale, que viria a perder a corrida para George H. W. Bush.
Seria preciso esperar até 2008 para voltar a ver uma mulher na calha para a vicepresidência. Aconteceu do lado republicano, quando o senador John McCain, na batalha eleitoral que travou contra Barack Obama, decidiu fazer-se acompanhar pela controversa Sarah Palin.