Um dos quadros mais antigos do SIS foi detido, em Itália, a passar documentos secretos a um agente do SVR (ex-KGB)
Foi uma das operações mais sensíveis, discretas e complexas levada a cabo pelo Ministério Público e pela Polícia Judiciária (PJ). O alvo, um veterano do SIS, era suspeito de estar a espiar para as secretas de Vladimir Putin. O pior cenário confirmou-se, depois de uma longa investigação que dura há vários meses: na passada sexta-feira foi detido em Itália, numa operação conjunta entre os dois países. C.G. foi apanhado em flagrante a passar, alegadamente a troco de dinheiro, documentos classificados. O russo, seu interlocutor, também foi detido. Em causa estão crimes de espionagem, corrupção e violação do segredo de Estado.
Segundo o comunicado divulgado esta tarde pela PJ, a operação "Top Secret", "decorreu desde o final da semana passada e findou ontem, na sequência da qual foi possível esclarecer fatos referentes à prática dos crimes de espionagem, corrupção e violação de segredo de Estado".
Na execução desta operação a PJ fez deslocar funcionários a Itália e, sublinha a Judiciária, "contou com a excelente colaboração da Polícia de Stato, de Itália - Divisione Investigazioni Generali e Operazioni Special (DIGOS), Interpol Roma, bem como a Eurojust.
De acordo ainda com a PJ, "os dois detidos, a quem foram apreendidos elementos com relevante valor probatório, foram presentes às Autoridades Judiciárias italianas, tendo sido determinado que aguardem extradição em prisão preventiva".
O tiro de partida para esta operação, a fazer lembrar os tempos da "Guerra Fria", foi dado pelo próprio chefe máximo das secretas portuguesas, Júlio Pereira, quando pediu à Procuradoria-Geral da República que investigasse o seu espião.
Amadeu Guerra, o diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), delegou nos dois procuradores com mais experiência em matérias de terrorismo e contraespionagem, João Melo e Vítor Magalhães. Quem executou a investigação foi a UNCT, dirigida por Luís Neves. Quem acompanhou o processo realça a "estreitíssima e muito eficaz" colaboração da parte das secretas na investigação da PJ.
Quando foi detido, o espião português, estava na posse de um passaporte diplomático russo, o que pode tentar usar a seu favor para conseguir um estatuto de imunidade.