Em 2015, candidataram-se 95 estudantes ao programa, sobretudo nas áreas de engenharia e arquitetura. Bolsas são a partir de 1100 euros
Ângela Santos estudava tsunamis em Portugal e, como já trabalhava com um professor japonês, resolveu candidatar-se à bolsa que a embaixada deste país abre anualmente para estudantes portugueses. Partiu em 2003 e o que era uma bolsa de um ano e meio acabou numa estadia de cinco anos. Fez mestrado e doutoramento em terras nipónicas e se a tese com que finalizou os estudos é sobre um tema bem português - O sismo e o tsunami de 1755 - Ângela Santos chegou de Sendai com um Research Encouragement Award (Prémio de Encorajamento à Investigação) da Japan Society of Civil Engeneers.
Investigadora no Centro de Estudos Geográficos do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa, a geógrafa de 39 anos é um exemplo de quem procura esta iniciativa da embaixada nipónica para completar os estudos no estrangeiro. Já lá vão 30 anos de atribuição desta bolsa, que tem novamente candidaturas abertas até ao dia 30 de junho para o próximo período letivo.
Quem quer ir para o Japão?
De acordo com dados da embaixada do Japão no ano passado candidataram-se à bolsa 95 estudantes portugueses. Nos anos anteriores as candidaturas rondaram sempre as 50, com exceção de 2013, em que ultrapassaram uma centena. Mais precisamente, foram 112. A embaixada não tem explicações para este número recorde, mas uma questão que pode não ser irrelevante é que ele coincide com o pico da crise económica em Portugal. Não há limitações quanto à área de estudo dos candidatos, mas, ainda de acordo com os dados da embaixada, a maior parte vem das áreas de engenharia, arquitetura, ciências ou relações internacionais.
Aquele que, à partida, será um dos maiores obstáculos a ultrapassar pelos candidatos - a língua - não consta dos requisitos iniciais. Os primeiros seis meses passados no Japão são precisamente para isso - um curso intensivo de japonês. Não dá para falar fluentemente, dá para "sobreviver", diz Ângela Santos. Não é um problema, mesmo e m termos académicos, garante, nas universidades fala-se inglês. Com um apoio monetário a partir de 1100 euros mensais, também o custo de vida não é um obstáculo, diz a investigadora: "A bolsa paga as despesas."
Organização e pontualidade
Do outro lado, que perfil procura a embaixada para a atribuição destas bolsas? Natsuki Konagaya, diplomata responsável pela Informação e Assuntos Culturais da embaixada nipónica, em Lisboa, sublinha que as bolsas se destinam a quem "está motivado, tem objetivos muito claros e tem interesse no Japão". E a "quem pode no futuro contribuir para estreitar as relações entre os dois países com base na sua experiência no Japão", acrescenta. Uma das preocupações da embaixada passa por manter o contacto com os ex-bolseiros, quando estes regressam a Portugal. Daqui resultou o apoio à criação de uma associação de antigos alunos, que nasceu em 2010.
Apesar da distância, a todos os níveis, entre os dois países, Ângela garante que não teve um grande choque cultural. "A grande dificuldade foram as condições climatéricas, tempo quente com 90% de humidade é uma coisa horrorosa. E depois neva no inverno", diz ao DN a geógrafa, que elege a organização e a pontualidade como as características dos nipónicos que mais a surpreenderam - por oposição ao que estava habituada em Portugal. Foi uma experiência muito positiva, garante: "Só não fiquei lá porque não há emprego."
Da experiência ficaram amigos japoneses com quem mantêm contacto. Entretanto, já regressou três vezes nos últimos anos, também por razões profissionais. A cidade onde estudou, Sendai, na região de Tohoku, esteve no centro do violento sismo - e do posterior tsunami - que atingiu o país em 2011, e destruiu parte da região.