Pai de Leopoldo López e mulher de Antonio Ledezma falam dos opositores presos e da situação que vivem os venezuelanos
A última vez que Leopoldo López Gil viu o filho foi há mais de um ano, pouco antes de sair da Venezuela para fazer exames médicos. Leopolfo López, o filho, líder do partido Primeiro Justiça, já estava preso desde 2014, condenado por incitar à violência nas manifestações contra o presidente Nicolás Maduro. Para não acabar também atrás das grades, devido a um artigo publicado no El Nacional sobre as alegadas ligações do chavismo ao narcotráfico, o pai não voltou a casa. Desde então, é à distância que defende a libertação do filho e das outras "dezenas" de presos políticos. Mas não só.
"Quem está preso não é necessariamente o Leopoldo. A Venezuela inteira está presa. E para que tantos milhões de pessoas saiam da prisão, é preciso tirar o carcereiro. É evidente que se não acaba o regime, não sairemos da prisão", disse ontem o pai de Leopoldo López, que está em Lisboa junto com Mitzy Capriles, mulher de outro líder opositor detido, Antonio Ledezma.
"A existência dos presos políticos serviu para despertar muitos venezuelanos, que fomos obrigados a ter que sair e dizer ao mundo que sim, que há presos políticos, porque o governo diz que não há", indicou Mitzy Capriles. Ambos participam no encontro "Falemos da Venezuela", que termina hoje no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) em Lisboa e foi organizado pelos eurodeputados portugueses José Inácio Faria e Carlos Coelho.
EUA preveem "golpe palaciano". Chavismo descarta referendo
Em Lisboa está também o deputado do Partido Socialista Unido da Venezuela, Darío Vivas, que repetiu ao DN a mensagem de Caracas: "Na Venezuela não há presos políticos, mas políticos presos." À margem das reuniões das comissões da Assembleia Parlamentar Eurolat, Vivas lembrou que tanto López como Ledezma são "instigadores" e "responsáveis diretos" pela morte de 43 manifestantes e ferimentos em mais de 800 nos protestos de 2014. "Nunca ninguém fala das vítimas, falam sempre nos vitimadores."
" Na Venezuela não há presos políticos, mas políticos presos"
Ao contrário de López Gil, que faz parte do conselho editorial do El Nacional e por isso foi processado pela publicação do artigo, a mulher de Ledezma regressa sempre a casa. "Não consigo não voltar. O meu marido está preso, vou acompanhá-lo até ao fim do mundo." Ledezma, que fora reeleito presidente da região metropolitana de Caracas, foi acusado de preparar um golpe contra Maduro e está em prisão domiciliária. "Esteve três meses na prisão militar e teve uma emergência médica muito grave, rebentaram-lhe duas hérnias, e agora está em casa. Não pode sequer chegar-se à varanda", explicou Mitzy. "Claro que é preferível tê-lo detido em casa, mas vivemos sempre na angústia de não saber o que vai acontecer, porque os tribunais estão absolutamente amordaçados pelo presidente."
Já Leopoldo continua isolado na prisão militar. "A minha mulher e a minha filha visitaram-no no fim se semana e ele está bem. A prisão tem 180 presos , mas estão todos noutro edifício. Ele não contacta com ninguém", explicou o pai. A esperança é o referendo revogatório posto em marcha contra Maduro. "Não sabemos que vai passar. O que sabemos é que os venezuelanos estão fartos. Antes havia polarização, hoje não", defendeu Mitzy. "Estamos a viver num estado cujo modelo económico fracassou por completo. Nem que o barril de petróleo suba conseguem dar a volta", alertou, falando nu m "desabastecimento feroz".
López Gil pede "aos militares que juraram respeitar e fazer respeitar a Constituição que levem a sério o seu juramento" e não deixem o governo travar o referendo. Aos portugueses deixa um apelo: "Não se esqueçam da Venezuela." A associação Venexos, de venezuelanos em Portugal, lançou há um mês uma campanha para recolher 150 Kg de medicamentos para enviar para o país.