Esta quarta-feira haverá manifestações contra o estado de catástrofe a que a Venezuela terá chegado e que ganharam novo fôlego com um retrato da situação de colapso nos hospitais difundido na Imprensa internacional.
São protestos contra o Governo chavista de Nicolás Maduro que não acredita na destituição do presidente por referendo. Porque, disse ontem o vice-presidente, a Oposição fez mal o trabalho de casa e o referendo, a vir, vem tarde.
As notícias de carências avolumam-se e o prolongamento do "estado de emergência económico" - anunciado por Maduro na última sexta-feira para cobrir falhas ainda este mês - pode demorar o seu tempo. Aguarda ainda luz verde do Parlamento liderado pela Oposição e que rejeitara o primeiro pedido, em janeiro, confirmado depois pelo Supremo Tribunal de Justiça, considerado próximo de Maduro.
Ontem, o choque veio embrulhado numa reportagem do jornal "The New York Times", dos EUA - país que Maduro acusa de conluio com a Oposição e cujos altos responsáveis já fizeram saber que não se excluía a opção golpe de Estado na Venezuela. São imagens que atiram para o Terceiro Mundo: gente deitada em macas ensanguentadas, incubadoras partidas, corredores entupidos com doentes, contrapesos em camas de ortopedia feitos de garrafas de Coca-Cola cheias de água. São relatos de hospitais à míngua de equipamentos, medicamentos, profissionais.
"A morte de um bebé é o pão nosso de cada dia", resumia Osleidy Camejo, cirurgião em Caracas. Em 2015 morreram 2% dos bebés até um mês de vida, contra 0,2% em 2012. A reportagem dá um retrato que reflete o país e levou Maduro a querer mais três meses de "estado de emergência económico". Com ele o Estado pode dispor de bens do setor privado para garantir produtos de base no setor público, medida que, diz a Oposição, abre portas às expropriações.
E no setor público, no que à saúde diz respeito, relata o "The New York Times", falta desde sabão a luvas. Falta ainda água para lavar o sangue e energia para ventilar bebés (uma seca violenta esvaziou as albufeiras e obrigou a cortes de quatro horas diárias, ao avanço da hora oficial e à redução da semana de trabalho para dois dias). Os medicamentos oncológicos quase só se encontram no mercado negro. "É algo parecido com o séc. XIX".
Esta segunda-feira, o Governo venezuelano declarou oficialmente o "estado de exceção e de emergência económica" em todo o país, uma norma com que o presidente Nicolas Maduro pretende fazer frente a alegadas ameaças à sua administração.
"Declara-se o estado de exceção de emergência e económica (...) devido às circunstâncias de ordem social, económica, política, natural e ecológica que afetam gravemente a economia nacional, a ordem constitucional, a paz social, a segurança da nação", refere o decreto publicado no diário do Governo.
No decreto que estabelece o estado de emergência, o governo da Venezuela aumenta os seus poderes sobre a segurança, distribuição de alimentos e energia.