Naquele que foi o primeiro Conselho de Ministros do novo presidente, o titular da pasta das Finanças, Henrique Meirelles, já serviu de porta-voz. Executivo está repleto de investigados
Henrique Meirelles, do Partido Social Democrático (PSD), foi, como se esperava, o homem em evidência no primeiro dia do novo governo do Brasil liderado pelo presidente em exercício, Michel Temer, do Partido do Movimento da Democracia Brasileira (PMDB). O ministro das Finanças definiu as traves mestras da sua política em entrevistas e conferências de imprensa ao longo do dia: o controlo de gastos é a prioridade das prioridades. O titular do Planeamento, Romero Jucá (PMDB), braço direito de Temer, acrescentou ainda o plano de cortar quatro mil cargos de indicação política até dezembro deste ano.
O dia começou cedo para a equipa de Temer, o mais velho presidente da história do Brasil a assumir o cargo, aos 75 anos, com um demorado Conselho de Ministros inaugural, já no Palácio do Planalto, que ainda há 48 horas era ocupado pelo governo de Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, a força que geriu o país nos últimos 13 anos. Temer cumpriu na véspera o primeiro ato público na sua gestão, a tomada de posse do juiz Gilmar Mendes como presidente do Tribunal Eleitoral - órgão que ainda analisa as contas da campanha de 2014 do ex-vice-presidente e que pode, no limite, levá-lo à demissão.
Na primeira entrevista após ser nomeado, à Globo, o novo ministro das Finanças anunciou que já está "a trabalhar num sistema de metas de despesas". "Embora os 96 mil milhões de reais [cerca de 25 mil milhões de euros] de défice falados sejam já um número elevadíssimo, pode ser ainda maior, por isso é importante começar por falar a verdade", prosseguiu aquele que foi o presidente do Banco Central na gestão de Lula (PT).
Sobre a reforma na segurança social, Meirelles diz que o governo vai estabelecer "uma idade mínima de reforma" e que neste momento estão apenas em estudo "as regras de transição". Segundo o ministro, a introdução de uma novo imposto sobre transferências bancárias, proposto pela equipa de Dilma, continua em cima da mesa, mas não o quer aplicar por enquanto. E garantiu a continuidade dos programas sociais bem-sucedidos da gestão do PT, "sobretudo aqueles que se revelaram fundamentais e não são caros".
O novo governo, constituído por 24 homens brancos, inclui três ministros investigados na Lava-Jato, que passam a usufruir de foro privilegiado, escapando da alçada do juiz Sérgio Moro. Outros sete ministros foram citados ou têm ligação indireta ao caso. E 13 respondem a processos por improbidade ou irregularidades eleitorais.
A lista contabiliza membros de 11 partidos para satisfazer os que trocaram Dilma por Temer durante o processo de impeachment, como o PRB, do novo titular da Indústria e Comércio, o fundador da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, pastor Marcos Pereira.
Entre as fusões, medida essencial para Temer cumprir a promessa de reduzir o número de ministérios, destaque para a passagem da Segurança Social do Trabalho para as Finanças, o que motivou críticas de sindicatos, e a extinção da pasta da Cultura, que se fundiu com a da Educação. Os ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e das Mulheres, Igualdade Racial, Juventude e Direitos Humanos desapareceram do mapa.
Em sentido contrário, nasceu com estatuto de ministério o Gabinete de Segurança Institucional, liderado pelo chefe do Estado-Maior do exército, Sergio Etchegoyen, filho do general Leo Etchegoyen, citado como criminoso durante a ditadura na Comissão da Verdade, órgão criado por Dilma para investigar factos ocorridos no regime militar.