Do total de 81 senadores que formam a câmara, 59 já se pronunciaram em relação ao seu sentido de voto
Um total de 41 senadores brasileiros anunciaram já que vão votar a favor do 'impeachment' (destituição) da Presidente Dilma Rousseff, número que será suficiente para a afastar do cargo.
Se estas manifestações forem cumpridas na hora da votação, por painel eletrónico, no final dos discursos que decorrem há mais de 17 horas no Senado (câmara alta do Congresso), a chefe de Estado será afastada do cargo por um período de até 180 dias para ir a julgamento.
Os senadores poderão votar "sim", "não" ou abster-se e, após a conclusão da votação, será divulgada a decisão de cada um.
Até o momento, foram anunciados 18 votos contra a destituição de Dilma Rousseff.
Do total de 81 senadores que formam a câmara, 59 já se pronunciaram em relação ao seu sentido de voto.
A sessão, que já dura mais de 17 horas, começou às 10:00 (14:00 em Lisboa) de quarta-feira e, apesar do desejo do presidente do Senado, Renan Calheiros, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), para acelerar o debate, a sessão vai estender-se, visto que 71 senadores se inscreveram para falar, tendo cada um direito a 15 minutos.
Os trabalhos foram marcados até agora por vários pedidos de silêncio no plenário, desde logo, na intervenção inicial do presidente da câmara quando Renan Calheiros foi obrigado a pedir a um jornalista para falar mais baixo, por a voz do repórter estar a sobrepor-se à sua.
O presidente do Senado tinha indicado aos senadores que evitassem "votar por passionalidade", depois das críticas feitas aos deputados da câmara baixa, que justificaram as suas posições falando em Deus e na família, enviaram mensagens para casa e até exerceram o seu voto em nome de um torturador.
Porém, o senador Magno Malta, do Partido da República (PR), disse que vai votar em nome da neta que vai nascer este mês e falou ainda no aborto e na redução da maioridade penal para justificar o seu voto.
"É preciso evocar o conjunto da obra. Estamos diante de um corpo febril e assaltado de taxas altíssimas de diabetes. Perna cheia de gangrena, pronta para ser amputada. Se amputarmos a perna, salvaremos o corpo", descreveu.
Nos seus discursos, os senadores também apresentaram números da economia e do desemprego, falaram da petrolífera estatal Petrobras, envolvida no maior caso de corrupção da história do país, e deixaram recados para o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Do lado dos apoiantes do Governo, houve palavras em defesa da democracia e da própria Presidente.
O senador Roberto Requião, do PMDB, afirmou que votará contra a "besteira, a monumental asneira do impeachment da Presidente da República neste momento".
Para além de jornalistas, deputados e funcionários públicos, o Senado também recebeu uma visita especial, a do padre Lázaro Brito Couto, que foi distribuir presentes aos senadores e testemunhar o destino da Presidente, defendendo o seu afastamento.
Temer pode ser 37º presidente do Brasil
Em data a designar nos próximos seis meses, o Senado voltará a julgar Dilma, desta vez com o líder do Supremo Tribunal Federal (STF) em exercício a presidir à sessão. Nessa ocasião, serão necessários dois terços - 54 - dos senadores a votarem pelo impeachment e não apenas a maioria simples - 41 - de ontem para que a presidente seja impedida de desempenhar cargos públicos por oito anos. Caso contrário, ela volta à presidência. Até esse julgamento, Temer formará o seu próprio governo.
Temer pode, portanto, ser o 37º presidente do Brasil, o sexto desde a redemocratização do país, em 1985, e o segundo a subir ao poder após impeachment do presidente, depois de Itamar Franco ter substituído Collor de Mello em 1992. Para Dilma, hoje pode ser o último dia no Palácio do Planalto, depois de 1959 dias de governo, 468 no segundo mandato. Ontem, ainda antes de iniciada a votação, a presidente já havia retirado todos os pertences pessoais do gabinete incluindo as fotografias da filha e dos dois netos.
Estes são os homens do futuro presidente Temer
À medida que os discursos dos senadores se sucediam - na sua maioria favoráveis à destituição - começaram a surgir reações. "Impeachment não é golpe mas não resolve a crise", disse Marina Silva (Rede), pré-candidata às eleições de 2018. Entre as reações internacionais, na primeira referência à crise política brasileira, o papa Francisco pediu, do Vaticano, "paz e harmonia para o Brasil". O porta-voz da Casa Branca Josh Earnest, por sua vez, considerou "desafiador" o momento que o Brasil vive, referindo-se ao eventual processo de substituição da presidente e à organização em menos de 100 dias dos Jogos Olímpicos.
Dilma trocou o habitual passeio de bicicleta por uma caminhada de manhã, reuniu-se com os 32 ministros e esteve toda a tarde no Palácio da Alvorada, sua residência oficial, em contactos com colaboradores diretos e a gravar um vídeo com um discurso de despedida. Temer não teve rotina muito diferente: alinhavou o primeiro discurso oficial à nação (ver texto ao lado) enquanto recebeu aliados no Palácio Jaburu, a residência do vice-presidente.
A presidente chegou a equacionar realizar uma simbólica descida da rampa do Planalto mas cancelou por sugestão do antecessor Lula da Silva (PT), com quem tem mantido encontros nos últimos dias.
Contra-ataque falhado
Ao final da manhã, o governo ficou a saber que o recurso apresentado na véspera ao STF pelo Advogado-Geral da União José Eduardo Cardozo (PT) foi indeferido. Cardozo pretendia vincular a decisão do juiz Teori Zavascki para afastar Eduardo Cunha (PMDB) da presidência da Câmara dos Deputados por abuso de poder à votação do impeachment sob seu patrocínio e condução.
Mas Zavascki, que por sorteio analisou também este pedido, argumentou que "o ato sob contestação representa a vontade de quase 370 parlamentares, que aprovaram um relatório circunstanciado produzido por comissão especial, com fundamentação autónoma ao ato presidencial que admitiu originalmente a representação". E por isso considerou o pedido do governo "inviável".
Parceiro de Deus e aliado do diabo
Aquele recurso foi o último contra-ataque jurídico do PT antes da votação do impeachment pelos 81 senadores, depois de na segunda-feira o próprio Cardozo e o governador do Maranhão, o aliado do governo Flávio Dino (PCdoB), terem convencido o presidente interino da casa, Waldir Maranhão (PP), a anular a votação do impeachment de 17 de abril.
Maranhão, que mais tarde revogou a sua própria decisão, está a ser pressionado para renunciar ao cargo e precipitar eleições na Câmara dos Deputados.