Nunca a ideia de proximidade foi interpretada de uma forma tão literal por um político. A deputada da Assembleia Nacional francesa Isabelle Attard, de 46 anos, fez a pé, em abril, 15 a 20 quilómetros por dia na Normandia (noroeste) para ouvir a população no ambiente das suas rotinas quotidianas, num ato a que chamou de "Democracia em Marcha". Fez 220 quilómetros em 16 dias.
Apresentando-se de mochila às costas, vestindo uma faixa tricolor com as cores da bandeira francesa, entrou em associações, participou em piqueniques, reuniões rurais, jantou com os cidadãos. E foi essa intervenção que lhe permitiu ouvir os problemas particulares, relacionados com o trabalho, a agricultura, a saúde.
"As pessoas não vêm para as reuniões políticas, para os debates políticos, por isso tenho de encontrá-las aqui, o que me permite ter um retorno sobre o que ando a fazer", declarou à revista "Inrockuptible".
Dos agricultores ouviu múltiplas preocupações, relacionadas com a remoção das sebes dos campos, a utilização de pesticidas, a reforma territorial. Isabelle Attard, deputada independente neste momento, está convencida de que "outro modelo de sociedade é possível".
Durante a caminhada, foram muitos os que fizeram questão de ir ao seu encontro também para lhe fazerem perguntas sobre o funcionamento da assembleia. A deputada falou-lhes francamente dos muitos colegas parlamentares que não são propriamente dotados em inteligência e que fazem intervenções muito fracas nas comissões.
Isabelle Attard entrou pela primeira vez na Assembleia Nacional através do partido "os Verdes", mas deixou o grupo pouco depois, em dezembro, por ser contra o modelo para a reforma das pensões. Depois juntou-se ao "New Deal", que veio também a abandonar, juntamente com 60 membros.