Supremo suspende mandato do líder dos deputados mas Waldir Maranhão, o interino, também está envolvido no Petrolão
Pela primeira vez em meses, o governo e a oposição concordaram: a decisão provisória do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender Eduardo Cunha (PMDB), presidente da Câmara dos Deputados, réu na Lava-Jato e segundo na linha de sucessão presidencial após a posse iminente do ainda vice Michel Temer (PMDB), "por não ter qualificações pessoais mínimas para substituir o presidente da República" mereceu os aplausos da esquerda à direita. Mas Waldir Maranhão (PP), o interino que substitui Cunha na Câmara, também é investigado no Petrolão.
Para Teori Zavascki, o juiz do STF que assinou a suspensão com base nos pedidos do procurador-geral da República Rodrigo Janot e de um grupo de partidos, "Cunha impõe riscos para a credibilidade das principais instituições políticas do país". Esses riscos, defende Zavascki, são agravados pelo facto de ser "quase certa" a chamada do deputado a exercer provisoriamente a presidência da República, no caso de Temer viajar para o estrangeiro e por estar a interferir, no exercício das suas funções, no seu próprio julgamento na Comissão de Ética da Câmara por ter mentido sobre o seu envolvimento na Lava-Jato.
Constitucionalistas ainda discutiam se na linha de sucessão de Temer ficaria agora o interino Maranhão ou o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB), que está a seguir a Cunha na hierarquia. Em todo o caso, um e outro são investigados na Lava-Jato.
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"Antes tarde do que nunca", reagiu a presidente Dilma Rousseff (PT). "Mas o que eu lamento é que ele tenha presidido com a maior "cara de pau" o processo de impeachment na Câmara", prosseguiu. "É uma decisão atípica e excecional mas diante da hipótese de Cunha se tornar no segundo na linha de sucessão na próxima semana, alguma coisa tinha de ser feita em nome do país", disse Cássio Cunha Lima, do PSDB. O núcleo duro de Temer não comentou mas fez saber à imprensa que o futuro presidente respira de alívio porque Cunha era considerado "um embaraço".
A assessoria do deputado, por sua vez, adiantou que ele "está tranquilo" e "vai recorrer da decisão". Pelo grupo de parlamentares que o apoia - conhecido como "tropa de choque do Cunha" - o sindicalista Paulinho da Força (SD) disse estar "revoltado". "Isto é um drama para os quase 200 deputados e senadores investigados pelo STF, estamos tão revoltados que pensamos até em não cumprir a decisão".
Dessa "tropa de choque" faz parte o agora presidente interino da Câmara Waldir Maranhão, cujo partido, o PP, é o que tem mais investigados, incluindo o próprio Maranhão, na Lava-Jato. Ontem, horas depois de se conhecer a decisão do STF, o interino causou indignação ao encerrar a sessão quando falavam parlamentares contra Cunha. Mas mesmo sem som nos microfones e com a emissão da TV Câmara interrompida, a sessão prosseguiu. "Desligaram o som mas encerramos mesmo assim uma sessão histórica", disse Luísa Erundina (PSOL).
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O primeiro pedido de afastamento de Cunha foi feito pelo procurador-geral Rodrigo Janot, ainda em dezembro. Por causa das férias de Natal, o STF foi protelando a decisão até ontem. Pelo meio, o deputado conduziu o processo que levou à quase certa destituição de Dilma.
Cunha é acusado de manter quatro contas não declaradas na Suíça alimentadas com o dinheiro do Petrolão, de ter recebido, segundo um delator, subornos no negócio da compra pela Petrobras de um campo de petróleo no Benim, de ter desviado 1,5 milhões de dólares em comissões pela compra de navios da petrolífera, de acordo com outro delator, e de ser considerado "o homem da palavra final" na indicação de diretores internacionais da empresa.