Na avenida apontada como exemplo por Fernando Medina, o comércio perdeu clientes por causa dos atrasos nas obras de prolongamento da linha vermelha do Metro. O autarca diz que o novo Saldanha vai demorar nove meses
No limite da Avenida Duque de Ávila, em Lisboa, avista-se o estaleiro de obras da Rovisco Pais e um outdoor da autarquia a anunciar a conclusão dos trabalhos para "abril de 2016". José Matias, 65 anos, há quatro décadas no quiosque de jornais da renovada e pedonal Duque de Ávila, aponta o cartaz num gesto irónico: "Essas obras começaram em dezembro e quase não avançaram. Pelo menos, a câmara punha aqui um cartaz a lamentar o facto. Agora deixar a data de conclusão de abril de 2016 é lamentável."
No dia em que arrancaram as obras no eixo central Marquês de Pombal-Entrecampos, e em que o presidente da Câmara de Lisboa apontou a forma como a Duque de Ávila ficou remodelada como exemplo inspirador para o que vem a seguir na zona, o DN foi ver o impacto que seis anos de trabalhos (e não dois, como estava previsto) tiveram para o comércio mais antigo da avenida.
O que agora se receia, com os trabalhos no eixo central Marquês, é que se repita o mau exemplo dos sucessivos atrasos nas obras do Metro, no prolongamento da linha vermelha da Alameda até S. Sebastião, que em vez de ficarem prontas em 2007 duraram até 2011. Nesse ano, e sob a gestão do então presidente António Costa, a câmara remodelou toda a pavimentação da avenida, dotando-a de grandes espaços de passeio e ciclovias, e permitindo a instalação de esplanadas.
O dono do quiosque de jornais, de cabelos brancos como a neve, é um assumido "velho do Restelo". Para ele, a época dourada da Duque de Ávila foi outra, "quando os elétricos e os autocarros ainda paravam aqui no terminal do Arco do Cego, havia a Imprensa Nacional Casa da Moeda e trabalhavam aqui mais de mil pessoas". José Matias já mudou o quiosque "de um lado para o outro" da estrada por causa das obras intermináveis. "Com isto tudo, o meu quiosque é provisório há quatro anos. Estou à espera de que fique definitivamente instalado."
Mais atrás, no centro da avenida, está um dos estabelecimentos mais antigos na zona, a Pastelaria Pão Doce, com 32 anos de existência. O gerente, Paulo Ricardo, de 46 anos, apresenta um saldo negativo das obras que todos enfrentaram, mesmo que a casa tenha ganho uma esplanada. "Perdemos 30% a 40% da clientela. Chegámos a ser 21 funcionários, agora somos 15."
Os clientes habituais "eram pessoas de idade" apreciadoras dos pães e bolos da pastelaria. "Como agora não têm estacionamento fácil e só podem deixar o carro longe não vêm para aqui", lamenta o gerente. Por outro lado, surgiu mais concorrência à volta e lojas novas como a da cadeia Padaria Portuguesa. "Em 200 lojas que existem na Avenida Duque de Ávila, 70 a 80 são de comes e bebes."
Desde ontem e nos próximos nove meses (até fevereiro de 2017) este centro empresarial e comercial de Lisboa vai estar transformado num estaleiro. O presidente da câmara garante que os transtornos serão minorados.
Medina garante policiamento
"Está em curso uma operação especial da Polícia Municipal de Lisboa para acompanhar os trabalhos e garantir a fluidez da circulação automóvel", afirmou Fernando Medina no recinto da antiga Feira Popular, onde fica o principal estaleiro das obras. "A Polícia Municipal está colocada nas três frentes de obra que vamos ter com uma equipa especial que vai percorrer o circuito para evitar o estacionamento em segunda fila, que é um dos elementos de perturbação da fluidez do trânsito", frisou.
Serão perdidos cerca de 60 lugares de estacionamento, garantiu. Inicialmente, previa-se uma redução de 300 lugares. Segundo Medina, a principal diminuição verifica-se na Praça Duque de Saldanha, zona que é"muitíssimo bem servida de parques de estacionamento, quer seja no Saldanha Residence, no Monumental, na Maternidade Alfredo da Costa e, um pouco mais acima, no Largo do Arco do Cego e no Campo Pequeno".
A PSP de Lisboa também já tinha avançado ao DN que vai destacar agentes do trânsito para o Arco do Cego e a Avenida Fontes Pereira de Melo. A nomeação depende dos trabalhos programados e da dimensão da obra a decorrer.