Aumento dos seguros de saúde e da utilização da ADSE leva privado a fazer um quarto das urgências do país e 35% das consultas hospitalares.
Os hospitais privados fizeram quase 8,6 milhões de consultas e urgências no ano passado, mais quase um milhão do que em 2014, segundo a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP). No caso das urgências, o setor já realiza cerca de um quarto do total no País. O setor, que em 2015 faturou cerca de 1855 milhões de euros, tem crescido em todas as áreas, "porque há mais pessoas com seguros, uma maior utilização dos utentes com ADSE e porque tem investido numa medicina de qualidade", diz Artur Osório Araújo, presidente da APHP.
O também dirigente do grupo Trofa Saúde salienta que as pessoas recorrem ao privado sobretudo por causa das consultas e das urgências, que cresceram 14% e 9,3%, respetivamente, segundo informação dos 105 hospitais associados da APHP. Foram ainda efetuadas 257 mil cirurgias, mais 4,8% do que no ano anterior.
"Há grande procura de atos simples. Consultas como as de pediatria, ginecologia, medicina interna ou saúde oral estão em crescimento, mas está a ser mais frequentes os utentes procurarem-nos para ter um médico de família ou assistente. É uma questão de qualidade ter alguém que siga o doente no seu percurso, mesmo não sendo o mais rentável para um privado".
O setor lucrativo fez 6,8 milhões de consultas (mais 836 mil), um pouco mais de metade das que são feitas por ano no SNS, excluindo as consultas nos centros de saúde, que superam 20 milhões. No caso das urgências, o privado fez 1,76 milhões (mais 149 mil), enquanto o SNS faz pouco mais de seis milhões. O ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, já referiu que uma das metas é reduzir este número em 10% e reforçar o atendimento nos centros de saúde, com mais exames, análises e consultas de outras especialidades.
Seguros e ADSE em alta
O contínuo crescimento dos grupos privados, que passaram de uma faturação de 750 milhões de euros para 1855 em 2015 (valores estimados), deve-se em parte a uma maior procura da parte de beneficiários da ADSE. O DN noticiou ontem que a despesa média por utente cresceu 46% em cinco anos porque quem tem ADSE opta cada vez mais pelo setor privado. Um sistema que deverá ser alargado.
Constantino Sakellarides, consultor do Ministério da Saúde, disse ao DN que é urgente a mudança na ADSE, que tem de ser "bem gerida, devidamente remunerada e ter em cinta que não se pode alargar a um ponto em que passe a haver um SNS dos pobres". O SNS deverá ser transformado para que as pessoas, em particular a classe média que o sustenta, o apreciem e o reconheçam como algo deles".
Mas a ADSE não é a única razão para a subida dos privados. Os portugueses optam também em maior número por um seguro de saúde. Em 2014, 2,2 milhões tinham um, refere a Associação Portuguesa de Seguradores. O presidente da APS, Pedro Seixas Vale, refere ao DN que "o crescimento homólogo do número de de pessoas seguras no final do 3º trimestre de 2015 correspondia a 2,8%", pelo que haverá mais 61 mil segurados em 2015. Artur Araújo diz que "as pessoas fazem seguros e procuram mais as unidades porque podem marcar consultas e exames com rapidez e ter resposta em pouco tempo."
Apesar da grande atividade cirúrgica e de internamento, esta é uma "maior aposta de quem tem ADSE, porque não há limites de plafond. Este é, infelizmente, um problema que devia ser resolvido nos seguros. Quem tivesse um seguro integral deveria poder ter um redução no imposto".
Apesar da subida da procura, em detrimento do SNS, Artur Araújo defende a existência dos dois sistemas, e que o "privado complementa o SNS". Tal como no público, "está a registar mais médicos em dedicação exclusiva, que é o que se pretende, para dar qualidade aos cuidados e seguimento ao doente." Além dos horários alargados e da rapidez, há novas apostas, "como a telemedicina e consultas com maior recurso a tecnologia".