Consumo de cafeína durante a gravidez tem impacto no desenvolvimento cerebral dos fetos
Estudo da Universidade de Coimbra indica que consumo de cafeína durante a gravidez é prejudicial para o desenvolvimento cerebral do bebé, aumentando a suscetibilidade ao desenvolvimento de epilepsia e problemas de memória espacial ao longo da vida.
Consumir o equivalente a três chávenas de café durante a gravidez pode acarretar problemas no desenvolvimento cerebral do feto, indicam investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular, da Faculdade de Medicina e da Faculdade de Ciências e Tecnologia, da Universidade de Coimbra.
O estudo que envolveu a colaboração de investigadores do Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale - INSERM, foi publicado na edição de 7 de Agosto da revista científica Science Translational Medicine.
Os cientistas desenvolveram o estudo em ratinhos de laboratório que foram submetidos, durante todo o período de gestação e até ao desmame das crias, a doses de cafeína semelhantes às de três cafés por dia nos humanos.
Rodrigo Cunha, investigador da Universidade de Coimbra e coordenador da equipa portuguesa envolvida no estudo explica, citado em comunicado da Universidade de Coimbra, que o consumo de cafeína por parte das gestantes levou a que os ratinhos jovens apresentassem «maior suscetibilidade de desenvolver epilepsia» e quando atingiram a idade adulta «detetámos problemas de memória espacial».
De acordo com o cientista, isto acontece porque «a cafeína altera a migração e inserção de neurónios que libertam GABA - o principal mediador químico inibidor no cérebro», sendo o correto processo de migração destes neurónios para o hipocampo essencial para a formação da memória.
Os resultados do estudo demonstraram que a cafeína tem um impacto negativo no processo de migração destes neurónios ao «bloquear a ação de um recetor específico, chamado A2A, diminuindo a velocidade de migração dos neurónios», afirma o investigador.
Rodrigo Cunha acrescenta ainda que devido a este atraso, «as células vão chegar ao seu destino mais tarde do que o previsto» e que por isso «esta migração tardia afeta a construção do cérebro com efeitos observados após o nascimento (alterações da excitabilidade celular e aumento da suscetibilidade a episódios convulsivos) e, durante a vida adulta, perda de neurónios e défices de memória».
Os cientistas salientam o facto deste estudo ter sido feito em ratinhos e não em humanos pelo que alertam para «o cuidado em extrapolar os resultados obtidos em modelos animais para a população humana, sem ter em consideração as diferenças no desenvolvimento do cérebro e da maturação entre as espécies».
No entanto, chamam à atenção que estes são resultados que devem servir de motivo para a realização de estudos em humanos, já que é a primeira vez que se demonstra uma causa efeito entre o consumo da cafeína durante a gravidez e o impacto da mesma no desenvolvimento cerebral dos fetos.