O coordenador regional do Centro da Rede Nacional de Cuidados Continuados, Manuel Oliveira, considera o envelhecimento da população um dos grandes desafios para o país e que Portugal não está preparado para cuidar dos mais velhos, apontando para falhas no Estatuto do Cuidador Informal.
"Tem sido feito um esforço incrível para garantir o que está no Estatuto do Cuidador Informal, com grandes assimetrias no país. Não temos recursos para a conseguir cumprir", revela o coordenador regional do Centro da Rede Nacional de Cuidados Continuados.
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Manuel Oliveira destaca também a mobilidade, que faz com que os mais jovens estejam a emigrar. "Estamos a deixar os mais velhos cada vez mais sozinhos e temos velhos a cuidar de velhos. Já tivemos situações de o cuidador ter de ser hospitalizado", sublinha.
Manuel Oliveira esteve sexta-feira na 3.ª sessão dos "Estados Gerais - Transformar o Serviço Nacional de Saúde", promovida pela Fundação para a Saúde SNS, que decorreu no Auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
Peditórios nas redes
A seguir a Manuel Oliveira, Rita Joana Maia, cuidadora informal dos pais há mais de 20 anos, fez o relato da sua experiência, que a obrigou a fazer várias cedências no âmbito profissional e pessoal.
"O Estatuto do Cuidador Informal foi aprovado em 2019 mas há muitas portarias que tardam em ser aprovadas. Sem apoio estatal, cuida-se protelando e anulando quem cuida. Não se cuida por amor quando não há outra opção", exclamou.
Rita Joana Maia qualificou de "terceiro-mundista" a situação dos cuidadores informais em Portugal, complementando que muitos estão em situação financeira precária, "com apoio estatal irrisório e muitas vezes sujeitos a fazer peditórios em redes sociais".