Milhares de pessoas encetaram, nesta quarta-feira, a fuga de Cartum, onde a população (cinco milhões) está refém, desde sábado, dos combates entre o Exército do Sudão e a organização paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), que causaram mais de 270 mortos e de três mil feridos, na maioria civis apanhados entre fogos.
Uma dirigente do Sindicato dos Médicos, citada pela agência France-Presse, descreveu a capital como "cidade fantasma", devido ao êxodo e à permanência, aconselhada mas arriscada, dos habitantes em casa.
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Depois de um cessar-fogo ter sido incumprido na terça-feira, com as duas fações a responsabilizarem-se reciprocamente, a RSF anunciou nova suspensão das hostilidades por 24 horas, entre as 18 horas de hoje e as 18 de amanhã, para "facilitar tarefas humanitárias". O Exército aderiu depois à trégua.
Pelo quinto dia consecutivo, Cartum amanhecera com explosões e disparos de artilharia, de aviação e de forças terrestres. Havia combates "ferozes" junto do quartel-general, do aeroporto e da televisão estatal.
Os confrontos foram desencadeados no sábado, com ataques armados das RSF, que chegou a reivindicar o controlo do palácio presidencial e do aeroporto de Cartum, após 18 meses de repressão de manifestações de civis pela democracia, que causou 120 mortos.
Apelo de embaixadas
Segundo um comunicado conjunto de 15 embaixadas ocidentais em Cartum, incluindo as representações diplomáticas da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos da América (EUA), na tarde desta quarta-feira, os acessos à capital estão bloqueados, os moradores não dispõem de energia elétrica e os hospitais estão destruídos.
O Sindicato dos médicos, a Organização Mundial da Saúde e a Cruz Vermelha Internacional tinham noticiado que 39 dos 59 centros médicos das zonas afetadas tinham sido destruídos.
Os beligerantes devem "cessar as hostilidades imediatamente e sem condições" após cinco dias de "ataques contra civis, diplomatas e humanitários", instaram as embaixadas.
Nos combates, que opõem o comandante do Exército, general Abdel Fatah al-Burhan, líder de facto do país, e general Mohamed Hamdan Daglo, comandante das RSF (companheiros no golpe de 2021 contra o Governo de civis que substituíra o ditador Omar Al-Bashir, deposto em 2019), foram atingidas instalações e pessoal diplomático da UE e dos EUA e trabalhadores humanitários do Programa Alimentar Mundial.