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Autor Tópico: Marcelo: há sete anos a pedir estabilidade, há um a pressionar Costa  (Lida 143 vezes)

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Offline Nelito

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Marcelo Rebelo de Sousa chegou a Belém há sete anos. O seu mandato na Presidência da República tem sido, em muitas matérias, oposto ao de Cavaco Silva: a prioridade que sempre deu à estabilidade e à paz social fê-lo querer segurar a geringonça, os "afetos" levaram-no a uma presidência de proximidade, o à-vontade com as câmaras de televisão catapultou-o para uma presença mediática constante. Se, até há um ano, muitos o consideravam demasiado próximo do Governo, a maioria absoluta tem-no tornado mais exigente para com António Costa.

No sétimo aniversário de Marcelo como presidente da República, o JN recorda alguns dos episódios mais marcantes deste período.

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2016: Presidente de "afetos"


Em março, quando já tinha vencido as eleições mas ainda não tinha tomado posse, Marcelo mostrou ao que vinha: durante o lançamento do livro "Afetos", do fotógrafo Rui Ochoa - que reuniu algumas fotos da campanha eleitoral -, anunciou que seria um presidente de "afetos, proximidade, simplicidade e estabilidade". Não o disse, mas estava dado o mote para um consulado contrastante com o de Cavaco.

2016: Costa e o "otimismo irritante"


Em maio, durante a inauguração do instituto i3S, no Porto, Marcelo disse olhar para o trabalho conjunto das instituições que colaboraram no projeto com o "otimismo crónico e, às vezes, ligeiramente irritante", do primeiro-ministro. A frase foi dita num momento de descontração, mas Costa não a esqueceu: em 2019, num comício, disse que iria continuar a ser "irritantemente otimista".

2016: Partilha guarda-chuva com Costa


As relações entre presidente e primeiro-ministro não ficaram beliscadas com o episódio acima descrito. Logo no mês seguinte, na estreia das comemorações do 10 de Junho fora de Portugal, Marcelo e Costa estiveram em Paris, onde participaram na festa da rádio lusófona Alfa. Surgiram no palco, debaixo de chuva intensa, a partilhar o mesmo guarda-chuva, segurado pelo primeiro-ministro.

2017: Incêndio de Pedrógão Grande


Foi o acontecimento mais dramático durante a presidência de Marcelo. Após os incêndios praticamente demitiu em público a então ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa: exigiu que o Governo tirasse "todas as consequências da tragédia" e abrisse "um novo ciclo", ponderando "quem, como e quando" se processaria essa remodelação. No dia seguinte, a ministra demitiu-se. Para a Histórica ficaram também as deslocações do chefe de Estado ao terreno, distribuindo abraços e consolos aos afetados.

2018: "Nebulosa" de Tancos "não cala" presidente

Na sequência de notícias que davam conta de que a Presidência teria tido conhecimento da encenação do aparecimento do material roubado em Tancos, Marcelo resolveu reagir. Ao "Público", embora não tenha apontado o dedo ao Governo nem a qualquer entidade, falou no surgimento de uma "nebulosa" que, a seu ver, dificultava a resolução do caso. "Se pensam que me calam, não me calam", atirou. Em 2019, com um registo enfático que poucas vezes adotou, afirmaria: "É bom que fique claro que o presidente não é criminoso".

2019: Dá aval a nova geringonça

Embora seja um histórico do PSD, Marcelo deu o seu aval à geringonça: em dezembro, após as legislativas, apelou à aprovação do Orçamento do Estado (OE) para 2020, afirmando que a continuidade do apoio parlamentar da Esquerda ao PS seria preferível a quaisquer "soluções pontuais". Sublinhando que a geringonça "não corresponde à minha área ideológica", reconheceu que esta trouxe a "grande vantagem" de dar ao país "um rumo mais ou menos definido e constante para uma legislatura".

2020: Decreta o estado de emergência

"Portugueses, acabei de decretar o estado de emergência", anunciou Marcelo a 18 de março de 2020. A pandemia já estava em Portugal e o presidente decidiu, pela primeira vez em democracia, acionar o referido mecanismo. "O caminho ainda é longo, é difícil e é ingrato. Mas não duvido, um segundo sequer, de que vamos vencê-lo o melhor que pudermos e soubermos", afirmou. "Não é uma interrupção da democracia, é a democracia a tentar impedir uma interrupção irreparável na vida das pessoas".

2020: Chega a apoiar PSD nos Açores "não é a solução ideal"

Em outubro, ocorre nos Açores aquilo que tinha acontecido, cinco anos antes, a nível nacional: o partido mais votado nas eleições estava em minoria na Assembleia Regional, levando algumas das forças derrotadas a tentarem formar Governo. Marcelo deu posse ao novo Executivo do PSD, apoiado por Chega, IL e CDS, por não ver "razão constitucional" para o recusar. No entanto, avisou que, a seu ver, esta "não é a solução ideal".

2021: Braço-de-ferro com o Governo: "Politicamente, ganhei"

Foi um dos primeiros braços-de-ferro com o Governo. Marcelo promulgou três diplomas sobre apoios sociais no quadro da pandemia, que o Parlamento tinha aprovado mas que Costa considerava inconstitucionais. O Executivo recorreu para o Tribunal Constitucional, que lhe daria razão. O presidente reagiu: "Juridicamente certamente perdi, politicamente acho que ganhei".

2021: Recebeu Rangel em Belém sem Rio saber

Em vésperas de eleições internas no PSD, Marcelo Rebelo de Sousa recebeu, em Belém, o candidato Paulo Rangel, que tentava derrotar Rui Rio. Este último foi apanhado de surpresa, tomando conhecimento do encontro em direto, no Parlamento, quando falava aos jornalistas. Rio, desconcertado, disse "discordar frontalmente" da decisão do chefe de Estado. Marcelo não se comoveu: "Quando me pedem audiências de cortesia, recebo. Faço isso há seis anos", frisou.

2021: Ultimato leva país para eleições (e dá maioria absoluta ao PS)

Querendo-o ou não, foi Marcelo quem deu o pontapé de saída para as eleições legislativas nas quais o PS alcançaria a maioria absoluta. Em outubro de 2021, perante o impasse entre PS e Esquerda no âmbito das negociações do OE, fez um ultimato: ou os partidos se entendiam, ou ele próprio avançaria "logo, logo, logo" para a dissolução do Parlamento. Dito e feito.

2022: Avisa que, se Costa sair, Governo cai

O PS tinha acabado de conquistar a maioria absoluta e, talvez por isso, Marcelo foi contundente. Logo na tomada de posse do Governo, aludindo às notícias que davam conta da possível saída de Costa para um cargo europeu a meio do mandato, atirou: "Tenho a certeza de que vossa excelência sabe que não será politicamente fácil que esse rosto, essa cara que venceu de forma incontestável e notável as eleições, possa ser substituída por outra a meio do caminho".

2022: Lembra que Costa é responsável por escolhas "menos felizes" de ministros

Pedro Nuno Santos anunciou uma solução para o novo aeroporto de Lisboa, Costa desautorizou-o publicamente. Marcelo deixou um recado ao chefe do Governo: só ele é responsável pelas escolhas "mais felizes ou menos felizes" dos governantes.

2022: Aproximação a Montenegro

Em entrevista à CNN, estendeu a mão a Luís Montenegro, recém-eleito líder do PSD. "Os sucessivos líderes de Direita, em vez de colarem em mim, descolaram ostensivamente de mim", afirmou, numa referência a Rio. "E quem é que colava a mim? O primeiro-ministro e o PS", referiu, acrescentando que Montenegro é "o primeiro que dá alguns sinais de perceber isto". Na mesma entrevista, descreveu Costa como "um mata-borrão", por ser "muito rápido a sugar as coisas".

2022: Eleições? PSD ainda não é "alternativa"

O primeiro ano de maioria absoluta socialista foi atribulado. Perante sucessões de casos a envolver governantes, começavam a surgir, à Direita, vozes a sugerir a dissolução do Parlamento. Marcelo apressou-se a recusar esse cenário, argumentando que "não pode haver eleições todos os anos". Além disso, considerou que o PSD ainda não estaria pronto a governar: "Não é claro que surgisse uma alternativa evidente e forte imediata ao que existe", sustentou.

2022: Quantidade de abusos sexuais na Igreja não é "particularmente elevada"

Numa primeira reação a um balanço da comissão independente para o estudo dos abusos sexuais na Igreja, Marcelo considerou que os cerca de 400 casos conhecidos até então não eram um número "particularmente elevado". O país indignou-se e, dois dias depois, o presidente pediu desculpa. A comissão independente, que recebeu as queixas, revelou que algumas vítimas resolveram denunciar os seus agressores após terem ouvido a intervenção de Marcelo.

2023: Coloca prazo de validade no Governo

O ano começou com um duro recado de Marcelo a Costa: descrevendo o ano de 2023 como "decisivo", o presidente deu ao Governo 12 meses para se regenerar e voltar a trazer "estabilidade política" ao país. Na mensagem de Ano Novo, e em plena onda de demissões no Executivo, enumerou alguns dos motivos que, a seu ver, comprometem essa estabilidade: "erros de orgânica", descoordenação, fragmentação interna, inação, falta de transparência e até "descolagem da realidade".

2023: Pede "bom senso" a Montenegro e Moedas sobre imigração

Depois de o líder do PSD, Luís Montenegro, e o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, terem feito declarações no sentido de limitar a entrada de imigrantes em Portugal, Marcelo pediu "bom senso" sempre que se fale de um tema "tão sensível". "Declarações muito emocionais feitas em cima de casos correm o risco de ser irracionais e de irem a reboque de posições mais emocionais", afirmou. Montenegro disse ter "a certeza" de que o recado não era para ele, Moedas foi mais contundente: afirmou que, enquanto antigo emigrante - foi comissário europeu em Bruxelas e trabalhou, em Londres, no banco de investimento Goldman Sachs - não aceitava "lições de ninguém".
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