Os críticos interno da liderança de Catarina Martins culpam a excessiva "aproximação ao PS", nomeadamente a aposta gorada na renovação da geringonça, pelas derrotas eleitorais do Bloco de Esquerda. Numa moção alternativa à de Mariana Mortágua, que vão levar à Convenção Nacional do partido, defendem um BE a liderar as lutas sociais e a fazer alianças à Esquerda, com vista à criação de uma força que derrube a maioria.
Segundo as linhas gerais da moção, que vão ser aprovadas esta sexta-feira, os críticos internos de Catarina Martins, que se juntaram para se apresentarem como alternativa na XIII Convenção Nacional do partido, o principal motivo das derrotas eleitorais do partido prende-se com a excessiva "proximidade com o PS" e com o facto de a liderança ter apostado tudo na renovação da geringonça.
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"A linha de 'excessiva proximidade ao PS', que determinou campanhas eleitorais do Bloco sem coerência nem autonomia, com expetactivas e objetivos dependentes de novos acordos com o Governo, resultou num ciclo de perdas eleitorais e de estreitamento da influência política", apontam críticos como os ex-deputados Carlos Matias e Pedro Soares, o histórico da UDP Mário Tomé ou Rui Cortes.
Para as tendências críticas, "sem capacidade de reconhecer o erro da orientação insistentemente prosseguida desde meados da legislatura 2015-2019, o atual discurso contra a maioria absoluta PS não é coerente, torna-se oco e retira confiança aos militantes e a muitos setores que apoiaram o Bloco".
Em contrapartida, na moção que vão levar à Convenção Nacional de 27 e 28 de maio, em Lisboa, os críticos propõem uma radicalização do discurso do Bloco de Esquerda e uma colagem do partido às lutas sociais. "A génese do Bloco foi marcada pelas mobilizações sociais", justificam, recordando bandeiras como a da despenalização do aborto. "É nesse campo que o Bloco tem de estar, de forma autónoma e diferenciada, sem hesitações sobre o papel do PS no acolhimento das políticas neoliberais da UE e de alinhamento com os interesses hegemónicos dos EUA e belicistas da NATO", sustentam.
"A ênfase quase exclusiva no Parlamento como centro da iniciativa política, a secundarização das lutas populares e até a demarcação em relação a combates laborais sujeitos a forte ataque do governo, retira coerência e dilui o projeto político", considera-se nas linhas gerais da moção, defendendo-se que é preciso "dar lugar a uma orientação com autonomia que reponha a radicalidade do discurso, a ação na defesa dos trabalhadores e a respostas à emergência climática, em vez do eleitoralismo marcado pela superficialidade, gerido em função da possibilidade de entendimentos parlamentares com incidências governativas".
"Queremos uma linha de diálogo com todas as forças _ partidárias, sociais e do conhecimento, capazes de se posicionarem à esquerda do Governo, nas suas propostas aos problemas sociais criados pelas crises e pela ofensiva neoliberal", acrescentam, defendendo que "a prioridade é favorecer a multiplicação das redes de ativismo e o sindicalismo à escala nacional, regional. "Porque disso depende o enraizamento, fortalecimento e ampliação da base de apoio popular à política alternativa de esquerda".
"O Bloco deve investir na aproximação, formação e organização de quantos/as queiram sindicatos com democracia, participativos, renovados e de combate", rematam.
Depois da aprovação das linhas gerais da moção que levam à Convenção Nacional, os críticos vão encontrar-se, de novo, para definir qual será o candidato à liderança que irão apresentar em alternativa à deputada Mariana Mortágua, que surge a linha da atual porta-voz Catarina Martins, que já anunciou não se pretender recandidatar depois de 10 anos a assumir o cargo.