O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, renovou esta segunda-feira o seu apelo aos Estados-membros da União Europeia (UE) para que enviem munições que tenham em stock para a Ucrânia, enquanto discutem a possível aquisição conjunta de armamento.
No final de um Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, o Alto Representante para a Política Externa e de Segurança apontou que a compra comum de armamento, e em particular de munições, foi hoje discutida pelos chefes da diplomacia dos 27, mas sublinhou que se trata de uma questão "mais da competência dos ministros da Defesa", aos quais vai apresentar "propostas concretas" na reunião informal agendada para 07 e 08 de março, em Estocolmo.
No entanto, insistiu Borrell, "o tempo é crucial e a velocidade é essencial" no apoio às forças armadas ucranianas, que "necessitam urgentemente de grandes quantidades de munições", para fazer face à mais do que previsível ofensiva em grande escala que a Rússia deverá lançar na primavera.
"É evidente que temos de lançar procedimentos para aumentar a capacidade da indústria europeia de produzir mais e mais rapidamente. É evidente que temos de intensificar os nossos esforços conjuntos, designadamente através de possíveis aquisições comuns. Mas também é claro que, nas próximas semanas, a melhor forma de providenciar munições à Ucrânia é recorrendo às munições armazenadas pelos exércitos europeus", disse.
Borrell insistiu que "não é preciso esperar que as munições sejam produzidas" para as fornecer à Ucrânia.
"Podemos usar o que já está produzido e armazenado, ou o que já foi contratado e vai ser produzido nos próximos dias", argumentou.
"A prioridade tem de ser dada ao fornecimento [de munições] ao exército ucraniano, tanto quanto pudermos. Temos objetivos de curto, médio e longo prazo. Mas o importante hoje é o objetivo de curto prazo", reforçou.
À saída da reunião, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, indicou que foi "discutida a possibilidade de aquisição comum de armamento, e em particular munições, para a Ucrânia".
Nas mesmas declarações, o ministro avançou a possibilidade de um aumento da capacidade financeira do mecanismo europeu de apoio à paz, através do qual tem sido prestada assistência militar a Kiev, mas frisou que "os detalhes ainda estão a ser discutidos".
"Há um entendimento comum de que devemos avançar por aí, mas ainda não há uma decisão", disse, adiantando que, "provavelmente, serão necessárias tranches maiores do que os 500 milhões (de euros), que tem sido o hábito até agora" através do mecanismo europeu de apoio à paz.
"Pode parecer imenso dinheiro, e é imenso dinheiro, mas para aumentar a capacidade de produção de equipamento militar, e particularmente munições, as empresas precisam de garantias de aquisição e, portanto, precisamos de aumentar a disponibilidade financeira. Infelizmente, sabemos que as munições serão necessárias na Ucrânia por bastante tempo", acrescentou.
À entrada para esta reunião, hoje de manhã, Borrell já tinha alertado que a UE devia decidir rapidamente como acelerar o fornecimento de armamento, sobretudo munições, à Ucrânia, pois se este apoio falhar "o resultado da guerra está em risco".
Nas mesmas declarações, Josep Borrell disse que esta semana, em que se assinala o primeiro aniversário do início da agressão militar russa à Ucrânia, será marcada por discussões, em diferentes fóruns, sobre como acelerar o fornecimento de armamento, designadamente munições a Kiev, pois essa é sem dúvida "a questão mais urgente" nesta fase da guerra.
"A Rússia dispara cerca de 50 mil tiros de artilharia por dia, e a Ucrânia necessita de estar ao mesmo nível de capacidade. Têm canhões, mas falta-lhes munições, sobretudo de calibre 155 milímetros. Por isso, faremos tudo o que pudermos", disse, apontando designadamente que será analisado o contínuo recurso ao mecanismo europeu de apoio à paz para providenciar financiamento, mas também será discutida a compra conjunta de armamento, assim como a possibilidade de os Estados-membros recorrerem às suas reservas.
"Esta é a questão mais urgente. Se falharmos nisto, o resultado da guerra está em risco", disse.
No sábado, intervindo na Conferência de Segurança de Munique, também a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apelou a uma aceleração da produção de armamento convencional, como munições, de que Kiev "precisa desesperadamente".
A Estónia, país báltico na vanguarda do apoio à Ucrânia, apresentou aos seus parceiros uma proposta quantificada: uma dotação de quatro mil milhões de euros dos Estados-membros ao Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, o instrumento que tem sido utilizado há praticamente um ano para a compra e fornecimento de armamentos para a Ucrânia.