Nas mais devastadoras tragédias onde a única certeza é que existem vítimas debaixo de escombros, mas a sua localização é impossível a olho nu, os cães do Grupo de Intervenção Cinotécnico da GNR são chamados para as encontrar. O faro apurado destes animais é grande mais-valia destas equipas. São versáteis, ágeis, rápidos, com uma capacidade física e de olfato acima da média, adaptam-se às condições atmosféricas mais adversas e são treinados todos os dias pelos seus tratadores da GNR. Agora, estão à procura de sobreviventes na Turquia.
A urgência de encontrar vítimas ainda com vida já levou os binómios - um cão e um homem, o seu tratador, militar da GNR - a intervir em catástrofes internacionais, como na Turquia, em 1998, no Irão em 2003, durante terremotos, ou em Moçambique, durante as cheias que assolaram o país em 2019. Em Portugal, estiveram nas enxurradas na Madeira em 2010, em Arcos de Valdevez em 2000 ou, mais recentemente, na tragédia de Borba, em 2018. Todos cenários onde se sabia que existiam vítimas, mas a localização era incerta. E agora estão novamente num contexto de tragédia, na Turquia, para onde partiram seis equipas esta quarta-feira.
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A GNR tem 29 binómios nas operações de socorro e salvamento espalhados pelo país. A maioria está em Queluz, mas também há equipas em Penafiel, Viseu, Évora, Faro, Açores e Madeira.
Os cães são da raça pastores belga malinois ou alemães, os chamados cães de trabalho, que só estão satisfeitos quando lhes é confiada uma missão. E na GNR, na vertente de busca e socorro, há muito trabalho a fazer no terreno e não só. O treino é diário e a avaliação é anual.
Gonçalo Brito, comandante do Grupo de Intervenção Cinotécnico, explica que o treino dos cães começa cedo. Aqueles que nascem em ninhadas na GNR, acompanhados por veterinários, são "logo com dois meses ensinados a focar-se nas tarefas sem se distraírem com outros estímulos". Ainda assim, a maior parte é comprada a criadores a partir dos oito meses, altura em que é despistado qualquer defeito genético.
"O treino dura cerca de um ano, são ensinados a encontrar odor humano e de cadáveres nos mais diversos cenários, em terra e mar. Os cães são entregues aos seus tratadores, com quem criam um laço afetivo enorme e que permite a que lhes respondam com grande eficácia." Normalmente, os cães trabalham durante oito a 12 anos e depois são entregues aos tratadores para a reforma.
Os tratadores, militares da GNR, são sujeitos a um treino rigoroso. "Têm provas físicas, são submetidos a cenários de sobrevivência e têm uma grande parte da formação em psicologia e trabalho em equipa", explica Gonçalo Brito. Recebem ainda o que se designa por formação em primeiros socorros psicológicos, uma vez que nos escombros podem deparar-se com situações de grande dramatismo, como crianças sem vida.
O treino de iniciação das equipas é feito em Queluz, onde está sediado o Grupo de Intervenção Cinotécnico da GNR. Os cães são ensinados a detetar o odor humano e há cenários montados de catástrofes. Júnior, pastor belga com cinco anos, e o seu tratador, o guarda principal Paiva, procuram vítimas em vários cenários, alguns em que não há vítimas e outros em que há várias. "Localizam, chegam o mais próximo possível, mas nunca tocam, já que podem provocar mais ferimentos", explica Gonçalo Brito.
Em prontidão constante, estas equipas já resgataram dezenas de vítimas de catástrofes. ""Estamos sempre prontos para intervir", destaca Gonçalo Brito.