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Autor Tópico: "Os portuenses não aderem de imediato à causa liberal. O exército liberal não en  (Lida 191 vezes)

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Offline Nelito

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Passados quase 200 anos sobre as Guerras Liberais, o que as torna tão relevantes para que mereçam, com este livro, uma abordagem aprofundada do ponto de vista da história militar?
Jorge Silva Rocha (JSR): Esta obra surgiu no ano em que se evocaram os bicentenários da Independência do Brasil e, também, da aprovação da primeira Constituição Portuguesa. Nesse contexto, pretende-se com a obra A Guerra Civil em Portugal (1828-1834): uma História Militar Concisa contribuir para colmatar lacunas existentes na historiografia nacional dedicada ao período compreendido entre 1828 e 1834, com especial ênfase no que diz respeito ao conhecimento do desenrolar das questões militares durante o mesmo período temporal. Época que marcou de forma indelével e traumática a população portuguesa, mereceu de todos os envolvidos na produção desta obra, em jeito de tributo e dever de memória, um esforço no sentido de esclarecer o seu complexo contexto e consequências. É uma obra coletiva que, sem esquecer a interligação entre a história militar e a história em geral, entendida como história orgânica, contribui, com rigor histórico e riqueza de conteúdos, para um conhecimento mais global daquele período e que, por isso, se espera venha a constituir-se numa obra de referência na historiografia nacional.

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Estamos a falar sobretudo de meios militares e de estratégia militar?
JSR: Estamos a falar de meios militares, de estratégia, de líderes militares, de exércitos, de equipamento e de armamento mas não só. Indo mais além na busca do rigor histórico, procurou-se encontrar uma ordem que não fosse arbitrária e que cuidasse da determinação da hierarquia dos factos, das suas relações e articulação.

Apesar de toda a complexidade, por ser uma guerra política e havendo tantos intervenientes internos e externos, é sintetizada muitas vezes como guerra entre dois irmãos, D. Pedro e D. Miguel. São, muito mais do que inimigos pessoais, rivais políticos que encarnam duas ideologias?
Fernando Rita (FR): Exatamente. Aliás, esta guerra é conhecida também como Guerra dos Dois Irmãos - na visão dos ingleses. Apesar de na infância terem sido próximos, vão chocar por razões políticas. D. Miguel, com o apoio da mãe, desejava continuar com a ideologia política que vigorava, o absolutismo. D. Pedro, um homem de mente aberta, criou no Brasil, logo em 1822, um regime que defendia ideias liberais, até por influência dos autores do iluminismo franceses. Realmente, em termos políticos, estiveram sempre em campos opostos, especialmente a partir de 1822 com o regresso a Portugal de D. João VI e com a assinatura da Constituição nascida da Revolução Liberal de 1820 e que mudava totalmente a política à época.

O problema agudiza-se em 1826, quando morre D. João VI e D. Pedro, sendo imperador do Brasil, cede o trono português à sua filha D. Maria II, e tenta um entendimento político através de um casamento entre ela e o tio. No entanto, em 1828, D. Miguel proclama-se rei absolutista. Nessa altura, o país é ainda marcadamente absolutista ou havia correntes liberais fortes?
FR: É um país marcadamente absolutista, até por influência do clero que era predominante sobre o povo, estando do lado mais conservador e sendo apoiantes de D. Miguel. Há uma adesão também de grande parte da nobreza, até porque o regime absolutista servia os seus interesses. Algumas elites, especialmente a burguesia, tinham ideias mais liberais e iam na senda de D. Pedro.


Há uma perseguição clara aos liberais?
FR: Sim, há. Houve uma fuga de muitos liberais, e também houve execuções.

Sérgio Veludo Coelho (SVC): Há 12 que são enforcados no Porto, em 1829, os 12 mártires da liberdade. Aliás, são vários os que são condenados à morte ou ao degredo, mas estes 12 foi literalmente porque eram maçons. Não havia maneira de fugir e foi à boa maneira portuguesa: foram decapitados e as cabeças colocadas em postes entre o Porto e Matosinhos. Era um sinal de que o liberalismo podia ser literalmente fatal.


Nesse contexto de força do absolutismo, como é que se explica a capacidade de D. Pedro de juntar um exército, levá-lo para os Açores e depois fazer o desembarque no Mindelo? Nesse momento, as forças liberais tinham verdadeiras possibilidades de inverter o rumo político do país?
SVC: Foi uma jogada de risco, porque o exército liberal que se forma, aquele que vem a desembarcar na Terceira, são as sobras do que saiu do país depois de Belfastada em 1828. Houve uma altura em que os liberais também eram um bocadinho mal vistos, porque depois há uma divisão entre os próprios liberais. Isto é, se fossemos pôr num espectro atual, temos a esquerda de 1822 e a direita de 1826, da Carta Constitucional. Mas, no fundo, é o resto do exército liberal que foge para a Galiza, os grandes chefes voltam para o vapor Belfast, uma situação que muitos liberais também não aceitam bem. Quando os soldados entram lá, são muito maltratados pelo capitão-general da Galiza, mas prosseguem para o exílio, uns para França e outros para Inglaterra. Mas o exército que desembarca no Mindelo, boa parte dele, é constituído por estrangeiros. Tem sempre havido uma visão um pouco negativa sobre o exército de D. Pedro porque se diz que eram todos mercenários, mas não é verdade. Posso dizer-lhe que tínhamos um contingente razoável de tropas portuguesas, incluindo os açorianos que foram recrutados na Terceira depois da batalha da Praia da Vitória, em 1829, na sequência do ataque das tropas da força legitimista. Portanto, os liberais vão conseguindo dominar os Açores, ilha a ilha, depois há uma tentativa final de ataque miguelista aos Açores, que foi repulso, e a partir daí foi construído o projeto para ir para o continente.

No exército que desembarca no Mindelo estão, portanto, mercenários, as velhas tropas portuguesas liberais e os soldados recrutados nos Açores, mas não é previsível que fossem capazes de mudar o rumo das coisas?
SVC: Acho que eles não conseguiam prever, porque o plano era que se corresse mal era reembarcar logo para os Açores.


A própria entrada no Porto é por causa de uma retirada não explicável do comandante das forças miguelistas?
SVC: Exatamente. Aliás, uma das coisas que este livro traz é o desmontar de uma série de erros que se perpetuaram, nomeadamente que não há 7500 bravos no Mindelo, há 8300.

E esses 8300 entram no Porto sem combater?
SVC: Quando chegam ao largo, que não é propriamente no Mindelo, é entre o Mindelo e Vila Chã, mais ou menos, desembarcam e há piquetes de cavalaria que são enviados pelo comandante da guarnição do Porto para reconhecimento. A guarnição do Porto, no total, teria entre 10 mil a 13 mil homens. Quando o exército liberal desembarca, ia a contar entrar em combate com a guarnição do Porto. Inexplicavelmente Santa Marta retirou para Sul, mas fez passar tropas para norte através do rio Douro.

Mas o Porto é mesmo tomado sem combate, certo?
SVC: Sim, sem combate.

Depois, temos o momento decisivo em que o Porto resiste ao cerco.
SVC: Exatamente. Mas é preciso referir que os portuenses não aderem de imediato à causa liberal. O exército liberal não entrou assim com tantos "vivas" e isso está na narrativa inglesa, que é muito certa. Não entrou com mantas à janela, nem entrou efusivamente, muito menos entrou com florzinhas azuis nos canos dos mosquetes, nenhum exército no seu perfeito juízo faria isso. Entrou em duas colunas numa cidade que está silenciosa. Basta ver que a maior parte daqueles portuenses assistiu às execuções de 1829 na praça nobre.

"Os portuenses não aderem de imediato à causa liberal. O exército liberal não entrou com vivas"
Mas depois a resistência de D. Pedro e dos liberais só é possível porque há uma adesão no Porto.
SVC: Há uma adesão no Porto depois da batalha de 29 de setembro. A 29 de setembro dá-se o primeiro grande ataque ao Porto em 1832. Os liberais entram no Porto no dia 9 de julho, estabelecem-se na cidade sem resistência, e há três reconhecimentos em força para saber onde andam os miguelistas. Fazem um em Penafiel, outro em Valongo, que dá a batalha de Ponte Ferreira, e depois fazem em Grijó, para os lados de Vila Nova de Gaia. A batalha de 29 de setembro é decisiva porque é um ataque em força de 10 mil miguelistas que entram pelo Vale de Campanhã em duas colunas. Conseguem apanhar os liberais desprevenidos e entram nas linhas da cidade. E há algo que faz os cidadãos do Porto aderir: quem tinha chegado ao comando das tropas miguelistas, foi Gaspar Teixeira de Lacerda, para meter na ordem as rivalidades entre generais. Este homem fez algo impensável para qualquer português, até porque Gaspar tinha estado no movimento de 1820, e vem-se a saber que ele tinha dado ordens que, no caso de os soldados miguelistas entrarem na cidade, dava-se três dias de saque. Isto tinha acontecido em 1809 e qualquer português com mais de 40 anos ainda se lembrava do que tinha sido o saque do Soult, mas isso ainda era desculpável porque vinha dos franceses. O que aqui era indesculpável é que era uma ordem que vinha de um português a dizer para se fazer isto a outros portugueses. As próprias datas de formação dos batalhões de voluntários nacionais da cidade do Porto, é precisamente a partir de 29 de setembro. Os batalhões começaram a crescer por toda a cidade, eram quase batalhões por bairro, e a resistência vai de 8300 homens para 14 mil.

A partir do momento em que os liberais se aguentam no Porto, há a questão do resto do país. Segundo sei, houve uma ação marítima importante de uma força liberal que desembarca no Algarve e que tem sucesso a partir do sul. Pode explicar?
FR: Foi tomada uma decisão muito importante por D. Pedro e os seus generais no Porto. O objetivo era sempre conquistar Lisboa, mas qual a estratégia? O cerco do Porto era um impasse a esta altura, portanto, era preciso abordar Lisboa pelo sul, daí acontecer a batalha do Cabo de São Vicente. Foi uma batalha com um almirante inglês e é ganha pelos liberais contra os miguelistas, o que permite que o contingente de 2500 homens da Terceira faça passar a estratégia à tática. Isto é, que manobrem desde o Algarve em direção a Lisboa, embora não tenha sido fácil porque houve vários confrontos durante este percurso.

Mas estas tropas vão ganhando aderentes?
FR: À medida que vão progredindo vão tendo vitórias e à semelhança do que aconteceu no Porto, o povo foi-se juntando à causa liberal. Depois, tomam Lisboa. Oficialmente, os liberais entraram em Lisboa a 24 de julho de 1833 e no dia seguinte dá-se o último grande ataque miguelista ao Porto, que lhes corre mal.

É nesse momento que se percebe que as duas grandes cidades do país estão fora do alcance dos miguelistas?
FR: Sim, exatamente.

Então porque é que a guerra ainda dura mais um ano?
FR: Realmente, os liberais alcançam o seu objetivo estratégico - chegar a Lisboa, à capital -, mas depois há uma reorganização das forças miguelistas, algumas acabam por vir do norte e o objetivo passa a ser reconquistar Lisboa que tinha ficado perdida. Dá-se então o cerco a Lisboa que dura um mês, com insucesso para os miguelistas, que acabam por ter de retirar para a zona de Santarém e têm de ocupar esta posição que é decisiva em termos estratégicos. A ideia era reorganizarem-se, agruparem mais fiéis à causa, para depois poderem voltar a atacar Lisboa.

Entrando já em 1834, qual é a batalha decisiva que mostra que a causa miguelista está perdida?
FR: O que acontece é que, ainda em 1833, os liberais vão em perseguição dos miguelistas até Santarém, mas acabam por nunca atacar essa posição estratégica. A última cartada dos miguelistas é na batalha de Almoster, a tentativa de furar o cerco feito pelos liberais, para depois voltar novamente a reconquistar Lisboa. Mas é uma batalha que é perdida pelos miguelistas. A Convenção de Évora Monte vai acontecer três meses depois.

Os miguelistas continuaram a resistir até ao momento em que já não havia mais possibilidades?
FR: Ainda resistem, tanto que acontece a batalha de Asseiceira, mas já é uma causa perdida.

Entretanto, em 1834 acaba a guerra, mas temos o exílio de D. Miguel que acaba por ser para sempre.
FR: É um exilado eterno, mas isto mostra sobretudo que o "mano" Pedro não odiava assim tanto o irmão.
SVC: Creio que muitos liberais mais radicais talvez não tivessem visto com maus olhos se tivesse havido uma retribuição do que foi feito a Gomes Freire de Andrade, o general liberal que foi enforcado ainda no tempo do absolutismo, em 1817.

Acha que é D. Pedro que é decisivo para que o irmão possa ser exilado?
FR: É ele que toma a decisão final e aliás, há uma prova disso: ele vai a uma sessão de ópera e fica muito triste porque depois de permitir o exílio de D. Miguel para Nápoles, chega ao camarote real com a filha e é pateado por não ter agido de forma mais dura para com o irmão. Ainda por cima, deixou-o ir com uma pensão.

A morte de D. Pedro, nesse mesmo ano, deixou os liberais sem liderança ou havia uma liderança liberal?
FR: Sim, há. Aliás, há duas figuras fundamentais e uma delas é Saldanha, o que até é engraçado porque ele e D. Pedro não se davam. Mas Saldanha foi decisivo, por exemplo, no cerco do Porto numa altura em que houve um impasse.

Mas então quando D. Pedro morre, Saldanha é uma figura tutelar?
FR: É uma figura que está ali com um pendor de poder e o Bernardo Sá Nogueira também.

E a jovem rainha, que já estava casada com o alemão D. Fernando, era uma figura politicamente gerível para o liberalismo?
SVC: Gerível e permeável, porque não nos podemos esquecer que este reinado foi feito por uma brasileira, ela era nascida no Brasil.

Mas vai ser D. Maria II que vai encarar esta nova monarquia liberal.
SVC: É, e abre caminho para que assim continue até ao 5 de outubro, nunca mais vai voltar atrás. Depois o que vai acontecer é um rotativismo entre liberais mais e menos progressistas.

Os absolutistas já estão então arredados de todo?
SVC. Não, não estão, porque no campo ainda continuam. Embora não tivesse havido o risco de voltarem em força, mesmo com alguns apelos à revolta por parte de D. Miguel a partir do exílio. Curiosamente, durante a Patuleia, em 1846, os miguelistas, os que ainda cá havia, tomam o partido da esquerda e não da Carta. Eles tomavam qualquer partido que fosse, desde que fosse contra D. Pedro.

Em 1830, França passa a ter uma monarquia mais liberal, Inglaterra também e depois Espanha. Este contexto internacional foi decisivo para que os liberais ganhassem em Portugal?
FR: Certamente. O apoio destes outros governos da Europa que já tinham mudado o seu rumo foi decisivo para o sucesso da causa liberal em Portugal, sem dúvida. E quando acontece a vitória na batalha de Almoster, já D. Pedro tinha o apoio desses governos todos.

Quantos historiadores participaram?
JSR: Participaram 33 incluindo os três coordenadores. Estamos a falar da participação nesta obra de mais de três dezenas de autores de diversas proveniências: militares, civis, investigadores, académicos, diretores de museus e bibliotecas, etc..

Quem patrocina este livro?
JSR: O livro é patrocinado pela Comissão Portuguesa de História Militar, uma instituição que goza de plena autonomia científica e funciona na dependência do Ministro da Defesa Nacional, que, no âmbito da sua missão de defesa e divulgação da história militar, acarinhou a edição desta obra. Com uma edição limitada e sem fins comerciais, esta obra será ofertada ao maior número possível de bibliotecas públicas do país, universidades e bibliotecas militares.
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