O primeiro-ministro, António Costa, pediu esta quarta-feira, no Parlamento, que os partidos deem "o seu contributo" para o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que visa a "superação da crise" gerada pela covid-19. No entanto, a Esquerda não abdicou de fazer exigências tendo em vista o Orçamento de Estado (OE) 2021.
No primeiro debate após o fim dos debates quinzenais, Costa sublinhou que ultrapassar a crise é "um desígnio que nos deve unir". Segundo o primeiro-ministro, o PRR - baseado no documento elaborado por António Costa Silva - é uma visão estratégica" que permitirá ao país sair da crise "mais forte" a nível de serviços públicos, empresas e salários.
No entanto, a Esquerda mostrou já ter os olhos postos no OE. A coordenadora do BE, Catarina Martins, lembrou que, "a pouco mais de duas semanas" da entrega do documento por parte do Executivo, ainda "nada se sabe" sobre ele.
A bloquista referiu também que o SNS "perdeu quase 600 médicos" desde janeiro. "Se há urgência, é mesmo a contratação de profissionais de saúde", vincou, pedindo ainda um "apoio robusto" para quem sofrer com a "vaga de despedimentos" iminente.
Jerónimo de Sousa, líder do PCP, sublinhou a necessidade da valorização dos salários, do controlo público de empresas estratégicas - falou de casos como os CTT, o Novo Banco ou a ANA - e de uma política de criação de emprego que permita superar a crise. "Na proposta do Governo, não encontramos resposta a estas questões", afirmou.
Rio teme corrupção: vai chegar "muito dinheiro em pouco tempo"
Rui Rio, líder do PSD, questionou se "o objetivo" do Governo ao querer aumentar o SMN é "fomentar ainda mais o desemprego", comparando António Costa com José Sócrates. O primeiro-ministro manifestou-se "completamente perplexo".
Rio também reivindicou mais apoios às empresas e perguntou como vai o Executivo "prevenir" a "potencial corrupção" que pode surgir pelo facto de estar a chegar ao país "tanto dinheiro em tão pouco tempo".
Cecília Meireles, do CDS, acusou o Governo de querer que as empresas se endividem para pagar impostos, criticando-o por falar em "grandes planos" e falhar "numa coisa tão básica" como exigir aos profissionais liberais que contraiam dívidas. "É viver alheado da realidade", considerou.
Como solução, a deputada preconizou a "descida cirúrgica de alguns impostos, sobretudo aqueles que têm que ver com adiantamentos ao Estado ou uma nova moratória".
Inês Sousa Real, do PAN, disse que o PRR assenta "num modelo económico completamente obsoleto" e "insustentável", baseado no "consumo exacerbado de recursos". Também o PEV pediu, através de José Luís Ferreira, que o Plano trilhe "caminhos de sustentabilidade" apostando na produção nacional. Para o partido, não o fazer será uma "oportunidade perdida".
João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, descreveu a proposta como "um catálogo de dezenas de medidas em que tudo é essencial ou seja nada é prioritário". Já André Ventura, do Chega, disse que o PRR delimita um "país público" e um "país privado", considerando que o segundo é prejudicado em benefício do primeiro.
A versão final do PRR será apresentada a 14 de outubro e enviada no dia seguinte para aprovação de Bruxelas. O documento não requer a validação do Parlamento nacional.