Marcelo Rebelo de Sousa lamentou que o estado das negociações entre o Governo e a Esquerda sobre o Orçamento tenha caído na praça pública. Um dia após Costa ameaçar com uma crise política, se BE e PCP não aprovarem o Orçamento, o presidente da República disse "não perceber" quem fala em "público dos objetivos que quer chegar em privado".
No Algarve, aonde rumou este domingo para dois dias de encontros com os autarcas da região, Marcelo recusou comentar "em público" o que os partidos "querem fazer de alianças ou não". "Em público, metade do valor perde-se", atirou, frisando que "o bom senso impõe que não se esteja a anunciar uma crise a oito meses de distancia".
"Aliás, não percebo que quando se quer objetivos, e se quer chegar a objetivos, não entendo que se fale, sobretudo, em público, daquilo que se quer obter, prejudicando o que se quer obter em privado. É mais fácil falar em privado do que andar a falar em público", disse o chefe de Estado, confrontando com as declarações de António Costa, numa entrevista ao "Expresso", sobre o risco de uma crise política, se o BE e o PCP não subscreverem a proposta orçamental para 2021.
O primeiro-ministro chega mesmo a acenar com a antecipação de umas legislativas, se tiver de vir a depender do PSD para governar.
"É uma situação muito crítica. Não é pior o efeito da dissolução do que a situação que se vive. E, sobretudo, importa que haja uma alternativa", retorquiu Marcelo, afastando que possa vir a dissolver a Assembleia da República até 9 de setembro, data até à qual constitucionalmente o poderia fazer, tendo em conta eleições presidenciais em janeiro de 2021.
"O plano do presidente é acima disso [da crise política]. E como a faca e o queijo estão na mão do presidente, o presidente ouve com atenção o que as várias pessoas dizem sobre se há crise ou não. Mas, crise que envolva a dissolução [do Parlamento] não haverá, porque depende do presidente. E o presidente aproveita para tornar muito claro: não contem com a ideia de haver eleições a correr, «à la minute»", salientou.