A polícia voltou este domingo a disparar granadas de gás lacrimogéneo dentro de uma estação de comboios e em vários bairros de Hong Kong, onde manifestantes ocuparam estradas em mais um fim de semana de demonstrações contra o Governo.
Os protestantes atiraram tijolos contra agentes de segurança e ignoraram os avisos para abandonarem o local antes do uso do gás lacrimogéneo na área de Sham Shui Po, alegou a polícia, adiantando que agiu contra uma "assembleia não autorizada", de acordo com a agência Associated Press.
Num local próximo, manifestantes com máscaras de gás juntaram-se em frente a uma esquadra da polícia em Cheung Sha Wan.
A polícia recorreu ao uso de granadas de gás lacrimogéneo no centro de Hong Kong, em ambas as laterais do porto Vitória, em Tsim Sha Tsui e em Wan Chai, na Ilha de Hong Kong. Num dos locais, os manifestantes bloquearam a entrada de uma praça, para impedir a polícia de entrar. Na esquadra de Tsim Sha Tsui, um polícia foi hospitalizado com queimaduras nas pernas provocadas por um "cocktail molotov" lançado por um manifestante.
A China está a fazer cada vez mais pressão sobre Hong Kong
O interior de uma estação de comboios em Kwai Fong foi transformado numa nuvem de gás depois de polícias terem lançado várias granadas, não sendo claro quantos manifestantes se encontravam dentro do espaço.
"Esperamos que o mundo saiba que Hong Kong não é a Hong Kong que costumava ser", afirmou uma manifestante, Louisa Ho, citada pela AP, acrescentando: "A China está a fazer cada vez mais pressão sobre Hong Kong, o seu povo e as suas organizações".
Este foi o nono fim de semana de protestos consecutivo. A contestação social começou em junho, desencadeada pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.
A proposta foi, entretanto, suspensa, mas as manifestações generalizaram-se e denunciam agora aquilo que os manifestantes afirmam ser uma "erosão das liberdades" na antiga colónia britânica e exigem agora a demissão do atual governador, representante da administração chinesa do território, reformas eleitorais e novas eleições; libertação dos detidos ao longo da sequência de protestos, e a realização de um inquérito aos alegados abusos policiais.
A transferência de Hong Kong e Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respetivamente, decorreu sob o princípio de "um país, dois sistemas", precisamente o que os opositores às alterações da lei garantem estar agora em causa.
Para as duas regiões administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.