Militares de nove países europeus juntaram-se às tropas francesas no desfile parisiense que assinala o dia nacional do país.
É um dos leitmotiv dos discursos europeus do presidente francês, Emmanuel Macron, que ontem fez dele a estrela do desfile de 14 de Julho, o dia nacional francês que nasceu para assinalar a Tomada da Bastilha (1789), símbolo da Revolução Francesa que acabou com a monarquia. De França veio então o tríptico da liberdade, igualdade e fraternidade e de França quer Macron ver nascer também o projeto de defesa europeia que fortaleceria a autonomia do bloco europeu e que muito desagrada aos Estados Unidos, para quem isso seria redundante com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).
Foi em nome do projeto que o chefe de Estado francês juntou na tribuna presidencial no final dos Campos Elíseos nove líderes da Europa. Entre eles, o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa. E somou-lhes o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o secretário-geral da NATO Jens Stoltenberg. Porque a "Europa da defesa" seria um complemento deste tratado.
Nunca, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a Europa foi tão necessária
"Nunca, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a Europa foi tão necessária. A construção de uma Europa da defesa, ligada à Aliança Atlântica cujos 70 anos festejamos este ano, é uma prioridade para a França e constitui a fio vermelho deste desfile", argumentou Macron, que viu passar 4300 militares, 196 veículos, 237 tropas a cavalo, 69 aviões e 39 helicópteros. Só entre as forças francesas. Somavam-se forças dos outros nove países signatários da "Iniciativa Europeia de Intervenção" (IEI), incluindo Portugal.
União graças a Trump
Impulsionada por Macron, a IEI nasceu há um ano com vista a criar "uma cultura estratégica partilhada". O objetivo é criar condições para uma atuação conjunta em missões de interesse europeu, sob a égide da União Europeia, da NATO ou mesmo da ONU. Ainda assim, está longe do desejo de Macron de uma orçamento de defesa comum. Mas é já "passar a uma velocidade superior", explicaria do seu lado a ministra da Defesa francesa, Florence Parly.
O desfile, prometera Macron, seria "um belo símbolo da Europa da defesa que estamos a construir". Acabou sendo "um grande gesto para uma política de defesa europeia", constataria no final a chanceler alemã, Angela Merkel. Com a garantia de que nada disto implica beliscar as soberanias nacionais, nem a cooperação na NATO. Mas "desenvolver programas de equipamentos comuns e de capacidades colectivas faz sentido", explicava anteontem Macron.
Quanto à mensagem ao presidente dos EUA, Donald trump, que não gostou de ver nascer a IEI numa altura em que confrontou os parceiros europeus com a disparidade do financiamento da NATO, de que Washington é o maior contribuinte, coube a Florence Parly. "O presidente Trump foi um excelente embaixador para a Europa da defesa. As interrogações ou mesmo ameaças veladas que pôde expressar quanto ao continente europeu ou à perenidade do compromisso americano aceleraram o processo de constituição desta Europa da defesa".
Tecnologia
O campeão do Mundo de jet ski que se fez homem voador
Não era James Bond, mas podia bem sê-lo. Chama-se Franky Zapata, tem 40 anos e, além de um currículo de campeão do Mundo de jet ski, tem outro de forças armadas e uma cabeça a fervilhar. Inventou um overboard voador e conseguiu o apoio militar francês para desenvolvê-lo. Ontem, surpreendeu a multidão que assistia ao desfile militar sobrevoando-a no "Flyboard Air", abrindo as bocas dos chefes de Estado e Governo convidados pelo presidente francês. A máquina, propulsada por cinco pequenos turborreatores de jato de ar, funciona com querosene e tem capacidade para voar durante dez minutos, podendo atingir velocidades de 190 km/h. Zapata subiu aos céus de Paris de arma na mão, num espetáculo correspondido no solo por militares com armas antidrone. A plataforma, segundo a ministra da Defesa francesa, Florence Parly, pode ser útil para várias, desde plataforma logística a plataforma de ataque, por exemplo "em operações especiais em áreas urbanas". Já fora exibida em 2018, como uma plataforma para um francoatirador posicionado em apoio a grupos de comando para o assalto de barcos no Sena.
Coletes detidos
As autoridades identificaram 175 pessoas à margem do desfile, por participarem em manifestação não autorizada, degradarem bens públicos e serem portadores de armas proibidas. O protesto fora convocado pelo movimento dos coletes amarelos, cujos dirigentes acabaram detidos por algumas horas. Entre eles o lusodescendente Jérôme Rodrigues, que ficou conhecido por ter sido ferido num olho numa das manifestações dos coletes amarelos.