O vice-Presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, visitou duas instalações de detenção de migrantes na fronteira do Texas na sexta-feira, incluindo um posto de patrulha de fronteira na qual centenas de homens estavam amontoados em celas. Alguns dos homens disseram que tinham com fome e que estavam no local há 40 dias ou mais, mas os jornalistas foram afastados para não ouvirem os protestos.
"Isto é uma situação dura", reconheceu Pence, posteriormente, numa conferência de imprensa. O vice-presidente disse ainda que não ficou surpreendido com o que viu: "Eu sabia que veríamos um sistema que está sobrelotado. Está sobrecarregado e é por isso que o Congresso tem de agir".
O gabinete de Pence disse que a viagem faz parte de um esforço para mostrar que a Administração Trump está a fornecer cuidados adequados aos migrantes.
No entanto, a cena que o vice-Presidente testemunhou deverá desencadear novas críticas às condições enfrentadas pelos imigrantes nas instalações do Governo dos Estados Unidos. Os migrantes estavam detidos numa área da estação da patrulha de fronteira em McAllen e, quando viram os jornalistas, os detidos começaram a gritar, dizendo que estavam lá há 40 dias ou mais e que estavam com fome e queriam escovar os dentes. Os agentes que guardavam as celas usavam máscaras faciais.
O grupo de jornalistas que cobre o vice-Presidente foi removido do local em 90 segundos.
As condições foram descritas por um jornalista do jornal "The Washington Post", que afirmou que as celas estavam tão cheias que era impossível para todos os homens deitarem-se no chão.
A cena lembrava outras situações que um inspetor-geral encontrou e que foram divulgadas na semana passada num relatório contundente, baseado em visitas a instalações da patrulha de fronteira perto do Rio Grande, incluindo o posto que Pence visitou.
O relatório citou um responsável do Governo que se referiu à situação como "bomba-relógio".
Michael Banks, o agente encarregado do posto de McAllen, disse que os homens ali detidos tinham permissão para escovar os dentes uma vez por dia.
Banks disse que os homens receberam desodorizante após o banho, mas admitiu que muitos dos homens não tomavam banho há 10 ou 20 dias, acrescentando que o período mais longo que qualquer homem esteve lá foi de 32 dias.
O Presidente Donald Trump disse na sexta-feira que enviou Pence para a fronteira para dissipar relatos de condições terríveis nos centros de detenção de imigrantes.
"Eles estão lotados porque temos muitas pessoas, mas estão em boa forma", disse Trump.
O Presidente norte-americano queixou-se de reportagens "falsas" no jornal The New York Times sobre as condições nestas instalações.
Mais cedo, Pence visitou outro posto de detenção. O vice-Presidente disse aos jornalistas que todas as famílias com quem falou disseram estar a ser bem cuidadas.
"Enquanto ouvimos alguns democratas em Washington referindo-se às instalações alfandegárias e fronteiriças dos Estados Unidos como 'campos de concentração', o que vimos hoje foi uma instalação que presta cuidados de que todo norte-americano teria orgulho", disse Pence.
Depois de visitar o segundo posto, Pence teve uma avaliação mais sóbria e pediu, enfaticamente, mais gastos do Departamento de Segurança Interna por causa da situação de sobrelotação, incluindo um pacote de ajuda humanitária de 4,6 mil milhões de dólares que o Congresso aprovou recentemente.
A Administração Trump também está sob fogo devido às condições num posto de patrulha de fronteira em Clint, no Texas, onde crianças foram encontradas em condições de pouca higiene e a vigiar as crianças mais jovens numa situação de sobrelotação.
Cinco crianças migrantes morreram desde o final do ano passado depois de serem detidas pelo Governo.
Famílias da América Central que fogem da violência, da pobreza e da seca estão a chegar aos EUA em número recorde este ano, chegando ao pico em maio, quando a patrulha de fronteira fez quase 133 mil detenções.
Os centros para deter adultos e crianças ficam rapidamente lotados, forçando muitos migrantes a definharem em instalações da patrulha de fronteira inadequadas e por muito mais tempo do que as 72 horas normalmente exigidas por lei.