A operação a nível nacional para deter e expulsar milhares de migrantes que estão ilegalmente nos Estados Unidos deverá começar no domingo, após ter sido adiada em junho pelo Presidente Donald Trump, avançou hoje a imprensa norte-americana.
A informação foi avançada pelo jornal "The New York Times" que cita dois atuais funcionários do Departamento de Segurança Interna e um antigo elemento dos mesmos serviços, que falaram sob a condição de anonimato uma vez que os preparativos da operação estão em curso.
As fontes precisaram que esta operação, que será conduzida pela Agência norte-americana de Imigração e de Controlo de Alfândegas (ICE, na sigla em inglês), irá decorrer ao longo de vários dias em pelo menos 10 grandes cidades dos Estados Unidos.
De acordo com as mesmas fontes, os agentes da ICE identificaram, neste momento, 2.000 migrantes que entraram recentemente nos Estados Unidos, que têm uma ordem final de deportação, mas que permanecem ilegalmente no país.
O jornal referiu que a administração norte-americana começou a acelerar os procedimentos migratórios no outono passado, indicando, por exemplo, que em fevereiro muitos destes migrantes foram notificados para se apresentaram junto dos serviços da ICE e consequentemente para saírem dos Estados Unidos.
Muitas deles não compareceram diante dos tribunais, acrescentou o título.
Em declarações ao canal CNN, na quarta-feira, o chefe dos serviços federais de imigração, Ken Cuccinelli, disse que esta operação de grande escala poderá abranger cerca de um milhão de pessoas que têm ordem de expulsão do país.
"Há cerca de um milhão de avisos de deportação", disse Cuccinelli à CNN, acrescentando: "Este é o número sobre o qual a ICE deve trabalhar".
O responsável indicou, no entanto, que o objetivo não será fazer todas estas detenções de uma só vez.
Um porta-voz da ICE, Matthew Bourke, afirmou, por sua vez, que a agência federal não ia comentar detalhes específicos relacionados com esta operação de fiscalização, de forma a garantir a segurança e a proteção dos funcionários do organismo.
As fontes citadas pelo The New York Times admitiram ainda a possibilidade de ocorrerem deportações "colaterais", ou seja, a detenção de migrantes indocumentados que não estão abrangidos pelos critérios desta intervenção, mas que por algum motivo se encontram no local da ação realizada pelas autoridades.
As mesmas fontes explicaram que as famílias que sejam detidas no âmbito desta operação serão mantidas juntas, sempre que possível, em centros de detenção familiar nos Estados norte-americanos do Texas e da Pensilvânia.
Mas devido às limitações de espaço, acrescentaram as mesmas fontes, "alguns poderão ter de ficar em quartos de hotel até que os respetivos documentos de viagem estejam preparados".
"O objetivo da ICE é deportar as famílias o mais rápido possível", apontou o jornal.
Esta vaga de detenções de imigrantes indocumentados foi inicialmente anunciada a 21 de junho por Trump, mas foi posteriormente adiada em duas semanas sob o pretexto de dar tempo ao Congresso norte-americano para que este alcançasse um compromisso sobre futuras medidas de segurança para a fronteira sul do país (Estados Unidos/México).
Dias depois, o Congresso aprovou um orçamento de 4,6 mil milhões de dólares (mais de 4 mil milhões de euros) para apoiar os migrantes na fronteira com o México.
O adiamento deste processo de detenções também aconteceu por causa da resistência manifestada por alguns dos funcionários da agência norte-americana de imigração.
Alguns responsáveis estão preocupados com as dificuldades logísticas da operação, nomeadamente com o acomodamento das famílias detidas e com a situação de menores que já têm a cidadania norte-americana.
A operação está a suscitar preocupação e fortes críticas junto dos movimentos de defesa dos imigrantes.
Estes movimentos estão a promover, por exemplo, linhas telefónicas de apoio e de aconselhamento direcionadas para os imigrantes ou ações de protesto em grandes cidades, como é o caso de uma concentração agendada para sábado em Chicago que espera reunir cerca de 10 mil pessoas.
A luta contra a imigração ilegal tem sido uma das prioridades políticas de Donald Trump, que já descreveu como uma ameaça à segurança nacional os milhares de migrantes oriundos da América Central que têm tentado entrar nos Estados Unidos nos últimos meses.
Em junho, cerca de 104 mil pessoas foram presas ou colocadas em centros de detenção após terem atravessado ilegalmente a fronteira com o México, menos 40 mil do que em maio.
Reportagens divulgadas pelos 'media' norte-americanos e relatórios de ativistas de direitos civis têm denunciado a existência de condições deploráveis nos centros de detenção de migrantes sem documentação nas fronteiras do sul dos Estados Unidos, em muitos casos envolvendo crianças que são separadas dos pais e deixadas em situação de risco.
Segundo o centro de pesquisa norte-americano Pew Research Center, 10,5 milhões de imigrantes viviam ilegalmente nos Estados Unidos em 2017. Quase dois terços vivem no país há mais de uma década.