José Sócrates acusa o atual "chairman" da Sonae, Paulo Azevedo, de ter sido a única pressão que recebeu enquanto foi chefe do Governo no caso da aquisição da PT. Antigo governante garante ter testemunhas do que fala.
O ex-primeiro-ministro garantiu que o Azevedo lhe pediu que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) votasse a favor da OPA [oferta pública de aquisição] do grupo sobre a antiga empresa de telecomunicações. "Tenho testemunhas do que afirmo", denunciou, nas respostas que enviou às perguntas da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à CGD.
"Sim, houve pressões sobre o Governo, mas vieram da Sonae - e tenho testemunhas do que afirmo. Não, "não estavam todos feitos", como disse o Dr. Paulo Azevedo - o meu Governo não estava "feito" com a Sonae, nem com ninguém", apontou numa das respostas, a que o JN teve acesso. Sobre este episódio é lacónico: Azevedo foi "o único concorrente que efetuou abertamente pressão".
Ainda sobre a PT, Sócrates sublinha que nunca beneficiou aquela que era a joia da coroa da economia portuguesa. Bem pelo contrário, orgulha-se de ter tido "uma política de promoção de concorrência" que acabou com "o monopólio da PT nos serviços de telecomunicações".
Socialistas na linha de fogo
O ex-secretário-geral do PS lamenta também a postura do partido em relação a Vítor Constâncio na CPI da Caixa. Saindo em defesa do ex-governador do Banco de Portugal, Sócrates diz que "ficou evidente" que, a par dos ataques de partidos da Direita, Constâncio tornou-se "alvo de todos - incluindo daquele de quem foi secretário-geral e que o ataca tão injustamente como todos os outros".
Foram vários os ataques à classe política. Sem nomear alguém, Sócrates fala de "um escol na política" formado por quem beneficiou das "vitórias do PS" mas que, por "ressentimento" ou por "sobrevivência" aproveitam "todas as oportunidades para demonizar a ação dos governos e dos dirigentes do PS".
Aliás, logo no preâmbulo das respostas enviadas ao deputados, salienta ter sido "o único antigo primeiro-ministro a ser convocado para prestar depoimento" e, acusando os deputados de estarem "de mãos dadas" com a Justiça para o denegrir, lamenta que tenham partido "para o ataque, para o insulto e para o seu verdadeiro objetivo - o ódio ao adversário político". As questões dos parlamentares, diz, têm subjacentes imputações "infames, injustas, absurdas e falsas".
Ao PSD sugere, atém que, em vez das perguntas que lhe enviaram, questione Passos Coelho pela sua intervenção no banco. Refere que até agora em nenhuma audição alguém referiu que tenha falado consigo, ao contrário do que terá acontecido com uma alegada pressão do "conselheiro especial do Governo de Passos para as privatizações [António Borges]", junto da administração da CGD.
Política e Justiça "de mãos dadas"
Em resposta às questões sobre o empreendimento Vale do Lobo, Sócrates assegura que assentam numa "maldosa campanha mediática promovida criminosamente pelo próprio Ministério Público", apoiado por "múltiplas patranhas" na imprensa. Sócrates desmente ter intervindo no processo que resultou no licenciamento do empreendimento ou no seu financiamento pela Caixa Geral de Depósitos - invocando aliás as palavras do ex-ministro Teixeira dos Santos para assegurar não ter indicado o nome de Armando Vara para o banco público.
Nem de Vara nem de qualquer outro administrador, disse, negando ter pressionado o antecessor de Teixeira dos Santos, Campos e Cunha, nesta matéria. Ao contrário do alegado pelo antigo ministro, diz Sócrates, foram "problemas de caráter" que levaram à saída do titular da pasta das Finanças. O ex-primeiro-ministro conta que Campos e Cunha se opôs à regra que obrigava reformados do Estado a optar por um terço do salário ou um terço da pensão. E acusa-o de ter sido incompetente na gestão da Caixa Geral de Depósitos.
Sócrates recusa ainda alguma vez ter falado com Joe Berardo sobre qualquer empréstimo pelo banco público e atira aos antigos administradores da CGD responsabilidades na atribuição de créditos tóxicos.