Trotinetas e mais trotinetas, ciclovias, e carros elétricos silenciosos são sinais de modernidade que saltam à vista nas cidades portuguesas e mundiais. Mas os benefícios do progresso também têm o reverso da medalha, nomeadamente para os deficientes visuais, que acabam por ter de enfrentar ainda mais obstáculos nas suas rotinas.
Com a destreza de quem há muito se habituou a recorrer a "alguns artifícios e manobras mais imaginativas" para enfrentar a azáfama do dia a dia, Marta Pinheiro, 38 anos, é mais forte do que o glaucoma congénito que lhe tirou a visão. E, como muitas mulheres, concilia a maternidade com o trabalho. No percurso entre Guimarães e o Pingo Doce de Vizela, onde trabalha como administrativa, Marta demora, em média, uma hora. Isto porque tem de apanhar dois autocarros e, ainda, fazer um percurso de cerca de 10 minutos a pé. Um caminho que podia ser encurtado, mas que, no seu caso não é possível.
"Há uma alternativa, que demora cerca de metade do tempo, mas implica passar pelo parque de estacionamento e para mim não é nada acessível, porque tenho de ir pelo meio dos carros". E isso, assegura, é algo a que só se atreve quando, "de longe a longe", os colegas saem à mesma hora e a acompanham. Porque "sozinha não dá mesmo", diz.