O presidente argelino, Abdelaziz Bouteflika, nomeou este domingo um novo Governo na tentativa de acalmar a contestação inédita que enfrenta há mais de um mês, deixando de fora alguns dos pilares da governação, como tinha prometido.
Os media do país noticiaram as grandes dificuldades do primeiro-ministro em formar a sua equipa, com numerosas recusas, pois nem a oposição nem a sociedade civil quiseram integrar um Governo em plena contestação popular.
O primeiro-ministro da Argélia, Noureddine Bedoui, nomeadao a 14 de março, tinha um novo Governo no prazo de uma semana, com uma equipa de "tecnocratas", aproveitando as "competências jovens, homens e mulheres" e com rumo guiado pelas reivindicações da juventude, como assegurou na altura numa conferência de imprensa.
Mas acabou por ficar-se por cinco mulheres - três delas do anterior executivo - e 23 homens, na sua maioria desconhecidos na cena política do país.
O Chefe de Estado Maior da Armada, general Ahmed Gaïd Salah, que sugeriu a saída do poder de Bouteflika para sair da crise nascida da contestação, continuará a ser vice-ministro da Defesa, em segunda posição na hierarquia, depois do primeiro-ministro Noureddine Bedoui.
A pasta da Defesa fica, no entanto, nas mãos de Bouteflika, constitucionalmente Chefe Supremos das Forças Armadas do país.
Uma surpresa no Governo - criado no tempo recorde de 20 dias - é que Ramtane Lamamra, nomeado a 11 de março vice-primeiro-ministro, ao lado de Bedoui e chefe da diplomacia, não figura na lista.
Será Sabri Boukadoum, 60 anos, até agora embaixador da Argélia na ONU, a herdar a pasta dos Negócios Estrangeiros.
Uma outra novidade é a entrada de Meriem Merdaci, editora de 35 anos, nomeada ministra da Cultura, e a outra mulher que se estreia é Djamila Tamazirt, para a pasta da Indústria e Minas, cuja biografia não é conhecida, por enquanto.
Com a maioria de entradas feitas por desconhecidos da cena política do país, há, no entanto, alguns rostos conhecidos, nomeadamente o novo ministro das Finanças, Mohamed Loukal, até agora governador do Banco da Argélia, de 68 anos.
Os argelinos que se manifestam em grande número há várias semanas querem mais que a saída do Presidente Abdelaziz Bouteflika, e pedem mudanças no poder que governa o país e que inclui vários grupos de interesse, segundo agências e analistas.
O grupo de pessoas que dirige a Argélia é designado pelos argelinos como "o sistema" ou "o poder" e este já conta pouco com um Presidente de 82 anos e debilitado por um AVC em 2013, que o impede de falar com os seus cidadãos e tornou muito raras as suas aparições em público.
Entre os homens fortes do regime está, segundo analistas, o irmão e conselheiro do Presidente, Said Bouteflika.