A mudança da hora - domingo começa o horário de verão e à uma da manhã o relógio avança 60 minutos - tem efeitos nocivos em doentes vulneráveis, que possuam problemas cardiovasculares, entre outros, e, por isso, há médicos que defendem o fim da mudança da hora, preferindo o horário de inverno, e, em simultâneo, a alteração dos horários sociais, como a entrada nas escolas.
Este é o parecer da Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina de Sono, que destoa das posições ainda ontem assumidas pelo primeiro-ministro, António Costa. "A mudança da hora duas vezes por ano desafia o nosso organismo a uma adaptação que pode ter efeitos nocivos em doentes com problemas cardiovasculares, descompensações de metabolismo, ou de diabetes, entre outras", defende o médico Miguel Gonçalves Meira Cruz, presidente da Associação Portuguesa de Cronobiologia, que coordenou um artigo sobre o assunto, publicado na revista científica da Ordem dos Médicos.
"É importante termos uma hora estável", afirma, pois "o nosso organismo não gosta de variações". "Há alguns estudos que indicam que nos três dias subsequentes à mudança de hora há mais incidentes de enfartes de miocárdio", sublinha Miguel Meira Cruz. O médido diz que a grande mudança devia passar pela alteração dos horários sociais. "As escolas começam muito cedo", refere, como exemplo.
Na passada terça-feira, o Parlamento Europeu aprovou por maioria a intenção de criar uma hora fixa para todos os estados-membros, a partir de 2021, mas o assunto ainda terá de ir a Conselho Europeu.
COSTA BATE O PÉ
O primeiro ministro assumiu, ontem, à TSF, que o Governo se vai opor à uniformização. Costa lembrou a experiência pessoal: "Os meus filhos eram pequeninos e tinham de sair de noite para ir para a escola".
Ponto assente entre os médicos é que, a escolher-se um dos horários, deve optar-se pelo de inverno para evitar que as crianças acordem no escuro. Joaquim Moita, presidente da Associação Portuguesa do Sono, diz que "é fundamental o contacto com a luz natural pela manhã. Dela depende a libertação de neurotransmissores responsáveis pelo acordar ativo e as boas condições para a concentração e memória". A sua associação vai pronunciar-se sobre a hora única na próxima semana.
Outros dados a reter
410 votos a favor - O Parlamento Europeu aprovou uma harmonização da hora com 410 votos a favor, 192 contra e 51 abstenções. Para que a proposta passe a diretiva europeia precisa de um acordo entre os estados-membros.
Costa não quer mudar - António Costa citou o Observatório Astronómico de Lisboa para apoiar a decisão de que os regimes de hora de verão e hora de inverno são para manter.
No tempo de Cavaco - De 1992 a 1996, Portugal adotou a hora padrão europeia. Estava Cavaco Silva à frente do Governo e as queixas multiplicavam-se: o sol despontava às nove da manhã e, no verão, desaparecia pelas 22 horas. Com António Guterres, hora voltou a mudar.