São dias difíceis para Maria de Fátima Branco, mãe da jovem em morte cerebral desde dezembro passado, no Hospital de S. João, e avó de Salvador, que nasceu na madrugada de quinta-feira.
Catarina Sequeira foi internada no dia 20 de dezembro do ano passado depois de ter sofrido um ataque de asma, às 19 semanas de gravidez. Os médicos do Hospital de Santos Silva, em Gaia, declararam morte cerebral seis dias depois, mas mantiveram a jovem de 26 anos ligada a um suporte artificial de vida para que conseguisse dar à luz o filho, assim que chegasse a altura. Catarina não sabia o sexo do bebé quando deu entrada no hospital. Queria um rapaz, conta a mãe. Salvador nasceu hoje.
A jovem tornou-se numa "incubadora humana", "um suporte vital", "e é isso que custa ouvir". As palavras são da mãe, Maria de Fátima Branco, que autorizou que a filha fosse mantida ligada às máquinas, e que tem sido consumida por uma mistura de sentimentos que junta "revolta, amor e ódio".
"Ainda não vi o meu neto, também não houve possibilidades, posso parecer um bocado crua, mas tão cedo não tenho capacidade para o ir ver. Quero fugir disto tudo. (...) Primeiro tenho que deixar partir uma pessoa para receber outra (...) Tenho que aceitá-lo plenamente sem esta escuridão que tenho cá dentro, sem este rancor, sem esta confusão de sentimentos", desabafou Maria de Fátima, esta quinta-feira, em entrevista a "O Programa da Cristina", onde aceitou ir para prestar tributo à filha.
"Estou a fazer uma homenagem à minha filha pela mulher que ela era, pela mãe que ela iria ser, pela falta que ela faz (...) Eu não estou aqui para partilhar a minha dor, porque esta dor eu não a quero partilhar com ninguém, esta dor é minha e nem eu me demito dela."
O caso
Catarina Sequeira teve um ataque de asma às 12 semanas que a atirou para um coma induzido no Hospital de Santos Silva, em Gaia. Pouco depois, entrava em coma profundo e, às 19 semanas de gravidez, em morte cerebral.
A comissão de ética teve de se pronunciar para que o prolongamento da gestação fosse aceite e, como em Gaia não havia cuidados intensivos urgentes, Catarina foi levada para o S. João, onde esteve ligada a um suporte artificial de vida até a gestação chegar às 32 semanas.
O parto estava previsto para sexta-feira, 29 de março, mas foi antecipado devido a algumas complicações. Salvador nasceu às 4.32 horas desta quinta-feira, às 31 semanas e seis dias, em resultado de uma cesariana de urgência. Apesar de ter nascido com dificuldades respiratórias, como acontece no nascimento de prematuros com este tempo de gestação, o seu estado de saúde está a evoluir bem. É um bebé com 1700 gramas e 40 centímetros.
O funeral de Catarina está marcado para esta sexta-feira, na Igreja de Crestuma.