Cecilia veste uma t-shirt de cor roxa com a inscrição "A luta é feminista". Não escolheu a indumentária por acaso. Integra o protesto que na quinta-feira juntou em Sevilha cerca de uma centena de pessoas contra a presença na capital andaluza do autocarro que a organização de extrema-direita HazteOír colocou em circulação em toda a Espanha numa campanha contra o movimento feminista.
Com a mensagem "Não é violência de género, é violência doméstica", o controverso veículo pede aos partidos para eliminarem a lei contra a violência de género aprovada em 2004 com o objetivo de proteger as mulheres.
A ação motivou protestos de grupos feministas em todas as localidades por onde tem passado. Sevilha não foi exceção. Desta vez, a concentração foi improvisada, mas as ativistas estão habituadas a sair à rua. Nas últimas semanas, as ações de preparação da greve feminista e das manifestações, que terão lugar esta sexta-feira, Dia Internacional da Mulher, em defesa dos direitos das mulheres, têm sido constantes.
Depois de uma mobilização sem precedentes vivida no dia 8 de março do ano passado, as organizações esperam que a convocatória deste ano volte a ser "um êxito total", diz ao JN Ana Martín, da Assembleia Feminista Unitária Sevilhana. O objetivo é chamar a atenção para questões laborais, como o facto de as mulheres "ocuparem os setores profissionais mais mal remunerados, sofrerem mais desemprego e terem dificuldades em progredir na carreira", mas pretende também dar visibilidade às responsabilidades acrescidas que as mulheres têm dentro de casa, uma vez que "dedicam o dobro das horas às tarefas domésticas do que os homens", sublinha a responsável.
Apesar de Espanha ter uma das leis que mais protege as mulheres da violência a nível europeu, quase 1000 mulheres foram assassinadas no país desde 2003. Por isso, uma das reivindicações é o reforço contínuo das medidas contra a violência de género.
Feminismo condiciona campanha eleitoral
Num país em que o movimento feminista tem vindo a ganhar centralidade no debate político, todos os partidos tratam de se posicionar em relação a este Dia Internacional da Mulher. Em plena pré-campanha para as eleições legislativas, que terão lugar no próximo dia 28 de abril, as questões da igualdade entre homens e mulheres marcam a agenda política.
Classificando-o como "o movimento social mais importante desde o 15-M", o Podemos apoia a greve e vai participar nas várias manifestações, bem como o Partido Socialista. Na reta final da legislatura, o Executivo de Pedro Sánchez aproveitou os últimos Conselhos de Ministros para aprovar um pacote de medidas que visam promover a igualdade, como a equiparação das licenças de maternidade e paternidade ou a lei que visa combater as disparidades salariais entre mulheres e homens.
Já o Ciudadanos, anunciou que participará na manifestação, mas ressalvando que defende um "feminismo liberal". Por sua vez, o Partido Popular, embora se afaste oficialmente da convocatória (que o líder, Pablo Casado, acusa de "partidista"), algumas dirigentes da formação, como Andrea Levy, anunciaram que iriam à manifestação a título individual.
A única formação que condena abertamente a mobilização das mulheres é o partido de extrema-direita Vox, que elegeu em dezembro 12 deputados regionais na Andaluzia e aspira a entrar nas instituições de todo o país. Acusando o feminismo de "tratar as mulheres como indefesas", Rocío Monastério, porta-voz do partido em Madrid, garantiu que no dia da greve vai "trabalhar mais do que nunca".