Dupla de peritos em explosões e mecatrónica liderava "empresa" de 38 indivíduos que atacava viaturas e multibancos. Recrutados membros de quatro grupos para dominar zona Sul.
Dois amigos, um especialista em explosivos e o outro perito de mecatrónica automóvel, decidiram unir saberes para se dedicarem ao crime. Elegendo a zona Sul como palco, contrataram dezenas de operacionais de quatro gangues que já por ali estavam implantados. Perfeitamente organizados e preparados para "responder a tudo" - quando acossados, disparavam contra a Polícia -, em dois anos cometeram centenas de ilícitos, em especial ataques a caixas multibanco, até com recurso a explosivos. São 38 arguidos, grande parte em prisão preventiva, que, a partir do próximo dia 7, começam a ser julgados.
De acordo com a acusação do Departamento de Investigação e Ação Penal do Ministério Público de Sintra, Leonildo Fonseca ("Leo", de 31 anos) e Paulo Santos ("Tuga", de 34), ambos de S. Jorge de Arroios (Lisboa), associaram-se, no ano de 2014, para constituírem uma empresa criminosa. A "sociedade" tinha duas áreas de atuação distintas, ligadas às especialidades dos seus líderes - explosivos e mecatrónica automóvel.
Tarefas distribuídas
O principal objetivo da atuação do gangue era o furto de caixas multibanco (ATM). "Tuga" roubava os automóveis - sempre carros de alta gama, nos quais eram anulados os dispositivos de segurança, incluindo imobilizadores - que depois eram utilizados para os ladrões se dirigirem aos alvos principais, de preferência carregados de dinheiro fresco.
Mas dois assaltantes eram poucos e as máquinas ATM eram milhares. Assim, para alcançarem o domínio total da zona e evitarem desencadear guerras de território, "Leo" e "Tuga" decidiram-se pela contratação de operacionais de grupos que já existiam e que, além dos furtos, se dedicavam ao tráfico de droga, atividade que passaram a incluir nas atividades da "empresa".
Nesse sentido, escolheram os melhores elementos de conhecidos grupos criminosos da Amadora, Cascais, Sintra e Zona Oriental de Lisboa, sendo que os líderes destes respondiam diretamente à dupla "Leo" e "Tuga". E organizaram-se quase na perfeição.
Para atuarem exclusivamente nos distritos de Lisboa, Santarém e Setúbal, além dos operacionais para os furtos de automóveis e explosões nos multibancos, criaram equipas de escolha e vigilância dos alvos, subgrupos de contravigilância e equipas de piquete com "durões" musculados para apoio, socorro e resgate. Não hesitavam em disparar contra a Polícia, a fim de retirar do local e esconder os operacionais que eram surpreendidos.
Quase todos na prisão
Por fim, o gangue criou uma "secção de lavagem", que tinha a seu cargo a dissimulação e branqueamento de bens que a cúpula ia acumulando com o dinheiro roubado. No total, a organização criminosa era constituída por 38 indivíduos, seis deles mulheres.
Ao todo, entre 2014 e 2017, cometeram centenas de crimes que ocupam milhares de páginas de uma investigação da PJ que acabaria por levar "à falência" a organização, e à prisão da quase totalidade dos seus membros, todos cadastrados.
PORMENORES
Crimes
O grupo de 38 assaltantes começa a ser julgado a partir do próximo dia 7, no Tribunal de Setúbal. Os arguidos respondem por centenas de crimes, dos quais se destacam associação criminosa, furto qualificado, explosão, branqueamento de capitais, posse e detenção de armas de guerra, tráfico de droga e falsificação de documentos.
Investigação da PJ
A investigação do grupo criminoso esteve a cargo da Unidade Nacional de Combate ao Terrorismo da Polícia Judiciária (PJ). Foi executada quando Luís Neves, atual diretor nacional da PJ, era responsável máximo por aquele departamento especializado na investigação do crime mais violento e organizado.