Com ou sem acordo, de hoje a três meses, o Reino Unido vai abandonar a União Europeia. Com ou sem acordo, Mark Hooley resolveu pedir a nacionalidade portuguesa, passo que tem vindo a ganhar corpo entre os britânicos residentes em Portugal, cerca de 50 mil, desde que, em junho de 2016, um referendo ditou o Brexit.
"A ideia estava na minha cabeça há algum tempo, mas o Brexit acelerou as coisas", diz o professor de Geografia, que ensina na Oporto British School.
É um dos ingleses - Mark é de Manchester - que, há dois anos e meio, ficaram em casa, convencidos de que a consulta popular era apenas uma formalidade para reforçar a permanência na União Europeia. "Inocentemente, pensei que seria uma vitória fácil do "remain" [ficar]. Nunca pensei que tal não acontecesse."
Dupla nacionalidade
Aos 33 anos, Mark está perfeitamente estabelecido em Portugal e o pedido de nacionalidade lusa é, precisamente, para manter aquela condição intacta, apesar de o acordo de saída entre o Reino Unido e a União Europeia - que ainda tem de ser aprovado pelo Parlamento sediado em Londres - assegurar todos os direitos dos britânicos residentes na Europa continental. "Mas vou manter o passaporte britânico."
De qualquer modo, alguns dos procedimentos para a obtenção de cidadania portuguesa - que englobam, por exemplo, conhecimentos da língua e da história - estão facilitados. Mark, que vive em Portugal há sete anos, é casado com Carla Figueiredo, leiriense de origem, portuense por opção, que trabalha na logística do Hospital de Santo António e ensina Inglês numa empresa online.
Vivem em Leça da Palmeira, Matosinhos, com dois gatos: Keith e Sam.
Saiba mais
Janeiro decisivo
O debate no Parlamento britânico sobre o acordo de Brexit, negociado entre o Reino Unido e a União Europeia, começa no próximo dia 9. Prevê-se que os deputados discutam o acordo até 11, mas o debate pode ser prolongado até um máximo de cinco dias, estando a votação prevista para a semana de 14 a 18 de janeiro.
Irlanda previne-se
A Irlanda criará novas áreas de escritórios e estacionamentos para centenas de camiões nos portos de Dublin e Rosslare, para garantir controlos aduaneiros em caso de Brexit sem acordo.
"Campo de minas"
Mark crê que o Reino Unido vai sair da União Europeia sem acordo, não sem antes "tentar estender" o período de transição, que finda em dezembro de 2020. "Socialmente, vai ser duro. Os conflitos entre britânicos e imigrantes vão aumentar." Em termos políticos, "é um campo de minas. Ninguém sabe o que vai acontecer".
O que quer que seja, o docente não deixa que a dúvida o atrapalhe: "Não vou voltar para Inglaterra".
Onde, defende, a típica mentalidade britânica - especialmente a das gerações mais velhas, nas quais se encontra a maioria dos adeptos do Brexit - sustenta: "somos grandes e temos Londres". "É a perspetiva tradicional da forma como as coisas são feitas."
Tem uma irmã em São Francisco, nos Estados Unidos, e um irmão na capital britânica. A mãe vive em Manchester. "Os portugueses têm uma mente mais aberta, aceitam melhor os outros, são muito amigáveis. Provavelmente, são ainda consequências dos Descobrimentos..."
Quando tentou começar a dar aulas - "em Inglaterra, é muito difícil" -, candidatou-se a lugares no Quénia, na Tailândia e em Portugal. "O primeiro contacto foi do Porto."
Conversou com o "Jornal de Notícias" na esplanada da Praia dos Ingleses. Foi pontual. Pediu uma meia de leite.