Os pais de Chérif Chekatt, o presumível autor do ataque terrorista que feriu o coração de Estrasburgo, perto do mercado de Natal da cidade, na terça-feira, foram libertados no sábado sem acusação e falaram à imprensa, com choque e incredulidade.
Abdelkrim Chekat e Rouadja Rouag, pai e mãe (divorciados) do homem que ficará para sempre na memória de Estrasburgo, foram detidos, com mais dois filhos, na noite do ataque que fez, segundo o último balanço, cinco mortos e onze feridos. Os quatro acabaram libertados no sábado, "na ausência de elementos incriminatórios", indicou o Ministério Público de Paris, que está a conduzir a investigação ao atentado. No mesmo dia, Abdelkrim e Rouadja aceitaram receber a cadeia de televisão "France 2", distanciando-se das ideologias a que o filho estava associado e enviando condolências às famílias das vítimas.
Abdelkrim, franco-argelino, motorista reformado, tem a chamada "ficha S", atribuída a indivíduos vigiados pelas autoridades francesas por suspeitas de ligações a atividades fundamentalistas. Sem razão de ser, salvaguarda um advogado que o defendeu e que garante que o homem "não era dado à religião" e não dava mostras de "proselitismo ou radicalização".
Quando a fotografia do filho começou a correr as televisões, Abdelkrim não quis acreditar: "Não tinha certeza se era o meu filho, tinha dúvidas". Tentou "pensar racionalmente" e acabou por ir a uma esquadra. "Vim aqui para dizer aos polícias que me digam se localizarem o Chérif, que vou ter com ele e vou tentar chamá-lo à razão para se render. Teria ido ter com ele e ter-lhe-ia dito para não disparar, tentaria persuadi-lo a render-se", recordou.
Abdelkrim viu Chérif três dias antes do ataque. Seria a última vez que falava com o filho. Na altura, nada fazia prever os planos que tinha. "Tê-lo-ia denunciado à Polícia. Assim, não matava ninguém e não era morto", garantiu, acrescentando que tentou ligar para Chérif várias vezes depois do ataque. Nunca recebeu resposta.
Abdelkrim Chekatt reconhece que o filho era simpatizante da ideologia do autoproclamado "Estado Islâmico", que reivindicou a responsabilidade do ataque em Estrasburgo, mas garante que sempre discordou do filho: "Sempre lhe disse que eram criminosos." "Ele dizia que o Estado Islâmico combatia por uma causa justa e eu dizia para esquecer, para não ouvir o que eles diziam. 'Não vês as atrocidades que cometem? Decapitações, queimar pessoas vivas?' Ele respondia que não era verdade, que não eram eles, que eram outros. Nunca pensei... Sempre lhe disse que eram criminosos".
Em desabafos à "France 2", a mãe de Chérif, Rouadja Rouag, que também assume não partilhar de ideias radicais, disse que ficou "chocada" e com dificuldade em compreender o que o filho tinha feito.