"Ainda choro ao pensar nos mais de 20 socos que o meu filho apanhou". A mãe de um dos recrutas mais atingidos pelos murros e pontapés do instrutor de bastão extensível, durante o 40.º Curso de guardas da GNR, no Centro de Formação de Portalegre, contou, ao JN, a revolta que sentiu quando viu as imagens das agressões.
"Não consigo ver ali qualquer coisa boa. Só vejo violência gratuita e com aquele tipo de treino só podem estar a criar militares violentos e agressivos", afirma, não excluindo a possibilidade de ir para tribunal.
Sob anonimato, por temer represálias para o filho, que quer acabar o curso, conta tudo o que sentiu, até porque ele foi um dos feridos mais graves e esteve vários dias internado, chegando a ser operado.
"O que vemos no vídeo é uma pessoa completamente protegida a agredir jovens sem qualquer tipo de proteção", disse a mãe do jovem, da Região do Minho. Nos dias a seguir à agressão, os militares terão sido acusados por "alguns graduados de estarem a fazer ronha e que era tudo manha". "Como se os hospitais operassem pessoas por manha e não por necessidade", ironiza.
"Sabemos que foi um exercício, mas não pode ser normal, durante um exercício, ficarem feridas tantas pessoas e, pelo menos duas delas, terem de ser submetidas a cirurgias", explicou. "Houve um excesso cometido pelos graduados que estavam a coordenar. E sobre isto não há qualquer dúvida", salientou a mãe, que ainda chora "ao pensar nos mais de 20 socos" que o filho "apanhou", acrescenta.
Sozinhos no hospital
Para a mãe, um dos aspetos que também não esquecerá foi a forma como os feridos foram enviados, sozinhos, para o hospital. "Iam fardados, transportados pelos bombeiros mas sem outro tipo de roupa ou calçado", lamentou. A família soube que estava no hospital após um telefonema ao filho. Foram de imediato para Lisboa e, até hoje, esperam que alguém lhes telefone a perguntar se precisam de alguma coisa ou a explicar o que aconteceu.
Garante que tiveram de comprar pijamas, calçado e produtos de higiene para os dias em que o filho esteve internado. Suportaram ainda os custos das viagens e do hotel onde ficaram para prestar apoio diário ao filho. E que foi a família a exigir que o "incidente" ficasse registado na escola. Não exclui a possibilidade de "avançar para tribunal".
Mulheres atingidas
Noutro quarto do hospital, ao lado do filho, um companheiro de curso também foi operado na sequência do "treino". "Como mãe, só as mães dos companheiros do meu filho é que conseguem sentir a revolta que sinto ao constatar que a violência é praticada dentro das próprias forças de segurança", referiu a mulher. Dá ainda conta de relatos de testemunhas sobre mulheres atingidas que, "por pudor", terão recorrido a hospitais privados para se tratarem.
"Desde o primeiro dia que os voluntários são convidados a desistir. São insultados por palavras e com praxes para os levar ao limite, aparentemente, na esperança de que abandonem o curso", denuncia.
Mas quer ver consequências: "Houve uma exoneração, mas quem efetivamente agrediu tem de ser punido e até expulso. Aquilo não é um treino, não é preparação para nada. É apenas violência. Os militares estão a formar guardas para aprender a levar porrada? Têm é que aprender a defender-se".
Apesar de tudo, tem a certeza que tanto o filho como os colegas não vão desistir e vão terminar o curso, no próximo dia 14, e entrar na GNR.