A situação na Turquia "está a piorar de dia para dia", avalia um dirigente do sindicato de jornalistas Basin-Is, referindo que "150 jornalistas" permanecem detidos desde a tentativa de golpe de Estado falhada, em 2016.
"A situação está a piorar de dia para dia e não podemos dizer que vá melhorar, porque provavelmente ficará pior no futuro próximo", prevê Ali Ergin, dirigente do Sindicato Basin-Is.
Numa entrevista à agência Lusa durante um encontro de sindicatos de jornalistas europeus, realizado em Atenas, no início do mês, Ali Ergin Demirhan sublinhou que, na realidade, os jornalistas detidos "podem ser mais, porque muitos não estão registados formalmente enquanto tal".
Além disso, "centenas foram forçados ao exílio, na Alemanha, na Escandinávia, na Grécia", acrescentou, explicando que os alvos do regime são, sobretudo, jornalistas curdos e próximos da oposição.
O estado de emergência já foi levantado no país, mas as autoridades turcas têm prosseguido a purga política (77 mil detenções e 150 mil pessoas despedidas ou suspensas) com que responderam à tentativa de golpe de Estado de julho de 2016, que causou 250 mortos e 2200 feridos.
O setor da comunicação social também tem sido alvo da purga. "Fizeram listas e entregaram-nas aos empresários, dizendo 'não queremos que deem emprego a estes jornalistas'", conta Ali, ele próprio detido por duas vezes (entretanto, após falar com a Lusa, registou a terceira detenção).
Ali Ergin Demirhan, que gere um dos principais sites com informação sobre a oposição social ao regime, foi condenado a um ano e três meses de prisão, mas a pena nunca foi efetivada, graças ao "círculo de solidariedade" que o protege.
A página online do Sindicato Basin-Is mantém um diário mensal (que traduz para inglês) com os casos de repressão sobre jornalistas e meios de comunicação social. A mera partilha de artigos publicados em certos meios ou escritos por certos autores pode dar problemas com as autoridades.
Desde julho de 2016 que o governo turco tem encerrado jornais e sites ligados à oposição, sendo que, "qualquer pessoa que critique o governo é acusada de antipatriotismo", resume Ali.
"Neste momento, não se pode aceder à Wikipédia na Turquia", exemplifica o jornalista, referindo as páginas banidas e bloqueadas na internet.
Perante isso, Ali ri-se quando se fala da posição da Turquia sobre o caso de Jamal Khashoggi, jornalista saudita assassinado em Istambul.
"É só um caso entre a Turquia e a Arábia Saudita. É propaganda barata. Há jornalistas assassinados na Turquia e sabemos que os assassinos são próximos dos serviços de informações do governo", realça.