Nos primeiros seis meses deste ano foram notificados 5385 casos de reações adversas a medicamentos em Portugal, uma média de 30 por dia.
No ano anterior, foram 17 casos por dia (quase metade), num total de 6105 notificações, revela o Sistema de Nacional de Farmacovigilância do Infarmed, regulador do medicamento. Os casos mais severos relacionam-se com a utilização de substâncias inovadoras em doentes oncológicos. As reações em idosos (um terço do total) prendem-se com a sua debilidade física e consumo abusivo de fármacos.
O crescimento de notificações não significa que deva haver uma maior preocupação com a qualidade e segurança dos medicamentos. Reflete, antes de mais, um "aumento da literacia dos cidadãos", explica Sofia Oliveira Martins, vogal do Conselho Diretivo do Infarmed. "Agora sabe-se como se pode reportar qualquer problema", declara. Em 2017, foi lançado o novo portal RAM (reações adversas ao medicamento) que simplificou o procedimento, tanto para profissionais como para utentes. Ainda assim, a maior parte das notificações continua a ser feita pela indústria e só depois por médicos e farmacêuticos (ver infografia).
"Ainda há muito a fazer, pois estamos abaixo do expectável na notificação, segundo estudos internacionais". E porque é tão importante este conhecimento? "Os medicamentos são estudados em ensaios clínicos através de doentes selecionados e as reações podem acrescentar informação".
3968 casos graves em 2017
Contudo, "não é qualquer reação adversa" que é reportada. "Não é uma borbulha", explica Sofia Oliveira Martins. Os pressupostos indicados à comunidade médica incluem situações graves, não descritas nas bulas dos medicamentos, e que indiquem um aumento da frequência do efeito. No ano passado, das 6105 notificações, o regulador extraiu 5455 casos, dos quais 3968 foram graves. O valor deste ano será igualmente elevado, referiu a responsável.
Um dos casos de que se lembra é o de uma reação estranha a um medicamento tomado diariamente, durante cinco anos. Foi-se investigar e descobriu-se que tinha havido uma mudança na formulação do fármaco. É raro acontecer um problema com a qualidade do medicamento, mas acontece, e cabe ao Infarmed divulgar essa informação.
Sofia Oliveira Martins revela que as reações severas têm estado relacionadas com o uso de medicamentos inovadores, sobretudo medicamentos oncológicos e biológicos, que costumam ser coadjuvantes dos primeiros. Os fármacos para doenças oncológicas e autoimunes costumam ser os que mais suscitam intervenção médica de emergência.
"Tem havido uma maior pressão dos doentes para se utilizarem estes fármacos precocemente e deduz-se daí que tenha de haver uma maior vigilância quando chegam ao mercado". Um medicamento novo tem de provar o perfil de segurança todos os anos, durante três anos, e só depois passa a ter um intervalo de apresentação de resultados de 5 em 5 anos. Merecem igualmente destaque alguns antibióticos administrados em meio hospitalar.
Como notificar
No portal do Infarmed, escolhe a área "cidadãos", "medicamentos de uso humano", e de seguida "utilidades", onde encontra a página "reações adversas a medicamentos". Terá então de optar entre a área utente e profissionais de saúde. Os restantes passos são intuitivos.
Nova campanha
O Infarmed lança hoje uma campanha de apelo à notificação das reações adversas a fármacos nas redes sociais, focada na necessidade de prevenir situações problemáticas em bebés, crianças e mulheres grávidas ou que estejam a pensar engravidar. A iniciativa integra o projeto europeu da "Adverse Druf Reaction Awareness Week", que chegará a 32 países, 24 deles europeus.