Amontoados gigantescos de bicicletas velhas acumulam-se junto às principais cidades da China, país onde se multiplicam os cenários de lixeiras a céu aberto. Esta realidade tem vindo a agravar-se nos últimos anos, com o encerramento de diversas empresas de partilha, que abandonaram milhares de veículos pelas ruas.
O problema ainda não ameaça a Europa e os Estados Unidos, pelo menos a esta dimensão, mas já há quem chame a atenção para a necessidade da correta reciclagem de baterias no caso dos veículos elétricos em fim de vida.
Num país onde grande parte da população se movimenta em veículos de duas rodas, a feroz concorrência entre as empresas de partilha determinou o encerramento das mais fracas. Só em Pequim, calcula-se que haja mais de 2,3 milhões de bicicletas partilhadas, muitas delas construídas com materiais baratos e não recicláveis. No fim de vida, não admira, por isso, que o destino seja o abandono, o que está na origem dos "cemitérios de bicicletas" que crescem em torno das cidades.
Atento à realidade, Miguel Batista, da Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (MUBi), destaca que nos países ocidentais este problema "é residual". "Isto acontece na China, e no caso dos veículos sem doca. Em Lisboa a OBike tentou trabalhar neste sistema, mas, quando surgiram os problemas de abandono, a Câmara recolheu os veículos e tentou falar com os responsáveis da empresa. Como não houve resposta, essas bicicletas desapareceram", observa.
Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, sublinha, por seu turno, que "as bicicletas de cidade são construídas em materiais recicláveis e não trazem, à partida, preocupação ambiental, porque podem ser reconvertidas na fileira do metal". Chama, porém, a atenção para o caso das elétricas: "Há o problema das baterias, que tem de ser acautelado, caso haja abandono destes veículos".
Amarradas às vedações em Amesterdão
Noutras cidades onde as bicicletas têm forte implantação, os casos de abandono estão ainda sob controlo. Em Amesterdão (Holanda), por exemplo, existe um centro especial para lidar com veículos de duas rodas abandonados, que só no ano passado recolheu mais de 63 mil exemplares.
Também nos Estados Unidos esta é uma realidade que merece alguma atenção. Um dos grandes exemplos vem de Chicago, onde existe um número próprio para a denúncia de casos de bicicletas abandonadas nas ruas.
Para Miguel Batista, tudo passa pelo controlo das autarquias. "Nos canais de Amesterdão, onde há muitas bicicletas que vão ficando pela rua amarradas às vedações, a Câmara notifica os donos e, quando estes não respondem, corta os cadeados e recolhe os veículos", exemplifica.
Outra das situações que começam a levantar preocupações em algumas cidades mundiais em consequência da multiplicação dos serviços de partilha é o número de veículos deixados sobre os passeios ou em locais de passagem. Miguel Batista acha curioso que as pessoas "estejam preocupadas" com isso, mas achem "normal" ver os automóveis nesta situação. "A diferença é que a bicicleta é um elemento novo, enquanto aos carros já se habituaram", diz. Já Francisco Ferreira destaca que os veículos partilhados são os casos menos preocupantes. "Como há uma identificação dos responsáveis pelas empresas, é mais fácil fazer o controlo da reciclagem", conclui