Não declaravam quaisquer rendimentos desde 2014, mas movimentavam milhões de euros, depositados em múltiplas contas bancárias, abertas e encerradas num ápice.
As "contas-relâmpago" serviam apenas para fazer o dinheiro seguir para a China. Os oito indivíduos detidos pela Polícia Judiciária (PJ) do Porto, suspeitos de liderarem um gigantesco esquema de fuga ao Fisco e branqueamento de capitais, vão hoje ser interrogados por um juiz, em Matosinhos.
Os detidos, todos cidadãos chineses da zona da Varziela, Vila do Conde, terão vendido milhões de euros de produtos importados sem fatura nem registo. O dinheiro, não declarado, seria depois enviado para a China através de transferências bancárias. Para já, a investigação tem provas de que pelo menos 40 milhões de euros foram branqueados pelo grupo, mas existem suspeitas sobre transferências no valor de cerca de 60 milhões.
Contas suspeitas
Para transferir o dinheiro para a China, o grupo usou dezenas de contas bancárias que eram abertas e encerradas em tempo recorde. "Esta investigação partiu das entidades responsáveis pela fiscalização das operações bancárias suspeitas. Foram detetadas pelos serviços de informação financeira contas bancárias tituladas por indivíduos estrangeiros com movimentos anormais. Essas contas tinham um período de utilização muito curto", explicou Henrique Correia, coordenador da PJ, que salientou a colaboração da Direção de Finanças do Porto na investigação.
Eram depositadas quantias, habitualmente em numerário, que eram transferias quase de imediato para o estrangeiro. Percebemos que muitos dos titulares dessas contas não eram conhecidos do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e não havia conhecimento deles em território nacional. A abertura da conta nem sequer era feita pelos titulares, que não deixavam rasto em Portugal", acrescentou Henrique Correia.
Na operação, denominada "Albare" e ontem noticiada pelo JN, a PJ apreendeu mais de três milhões de euros em mercadorias, 350 mil euros e 18 viaturas, a maioria de gama alta. Nas buscas, que decorreram em Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Porto, Gaia e Sintra, foram ainda apreendidos dezenas de documentos, como passaportes e cartas de condução internacionais falsificadas, que serão agora analisadas para se perceber qual a sua utilização.
Milhões de euros
A equipa mista da PJ e do Fisco que investigou o caso já detetou cerca de 60 milhões de euros em transferências suspeitas. Pelo menos 40 milhões são de branqueamento.
Elementos nas buscas
Estiveram envolvidas na megaoperação a PJ, a GNR, o SEF, a ASAE e a Direção de Finanças do Porto.