As supressões de comboios e as alterações de horários na linha ferroviária do Oeste aumentaram as críticas ao serviço, com passageiros a queixarem-se de as dificuldades de transporte porem em causa os seus empregos.
Ao fim de um ano e meio a deslocar-se todos os dias de Torres Vedras, onde reside, para Caldas da Rainha para ir trabalhar, no início de julho Sofia Henriques, 48 anos, acabou por ficar desempregada do trabalho que tinha a tempo inteiro.
Em declarações à agência Lusa, disse que este último ano e meio "foi um inferno" devido ora a supressões de comboios por causa de avarias nas composições, ora a greves, uma situação que piorou com o início das férias escolares, com a redução de horários nos comboios.
Se já antes não podia fazer horas extraordinárias por não ter comboios, com as supressões teve de recorrer ao transporte público rodoviário ou fazer o percurso em automóvel particular.
"De carro não compensa financeiramente. Já de autocarro, é mais caro, para em todas as aldeias, tenho de fazer transbordo no Bombarral e demoro uma hora e 40 minutos, enquanto de comboio é 40 minutos", justifica. Com todas estas alterações, Sofia Henriques acabou por perder o emprego.
Já Helena Marôa, de Leiria, foi obrigada a abdicar do emprego a meio tempo que manteve entre abril de 2017 e junho deste ano, em Torres Vedras, para onde se deslocava várias vezes por semana.
"Como deixei de ter o primeiro comboio que me permitia chegar antes das 9 horas a Torres Vedras e o último chegava a Leiria às 20.30 horas, não tenho outro meio de transporte e não compensava ir morar para Torres Vedras, tive de me despedir", contou esta utente, de 30 anos, à Lusa.
Antes da entrada em vigor dos novos horários, "houve situações em que chegou atrasada [ao trabalho] devido a atrasos ou a supressões de comboios", refere.
Fernando Pinto, 62 anos e residente em Leiria, trabalha na Marinha Grande há 28 anos e desde há 17 anos que usa o comboio da Linha do Oeste como meio de transporte por estar impedido de conduzir.
Habituado a tirar férias no verão por dispor de menos horários de comboios, este utente corre o risco de ter de se despedir.
"Se não repõem os horários no início das aulas, não sei como vou fazer. A única hipótese é ir de autocarro, mas tenho de andar 10 quilómetros a pé, tenho de pagar 80 euros de passe em vez dos 38 de comboio e demoro muito tempo", sintetiza.
As alterações nos horários dos comboios da Linha do Oeste, implementadas em 5 de agosto, são temporárias e vigoram até novembro.
Otília Santos, do Bombarral, utilizava várias vezes por semana o comboio das 8.50 horas no Bombarral para ir trabalhar para Torres Vedras. "Deixou de haver. Agora só há um comboio às 6.09 e às 12.39, não se admite", reclama.
"Quando eu comecei a andar de comboio, há 20 anos, os comboios andavam cheios e, desde que começou a haver supressões e a haver atrasos nos horários, as pessoas tiveram de resolver o problema e optar pelos autocarros ou nos próprios carros particulares", explica à Lusa.
Por não ter horário compatível e porque viajar de autocarro é mais caro (3,85 euros em vez dos 2,50) e mais demorado, teve de abdicar de grande parte das horas de trabalho.