O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atacou o procurador-geral, Jeff Sessions, que reagiu declarando-se preparado para resistir a pressões políticas.
Trump avisou que os mercados financeiros vão "cair a pique" se vier a ser destituído.
"Toda a gente vê o que se passa no Departamento da Justiça. Agora, meto sempre 'justiça' entre aspas", declarou o chefe de Estado norte-americano ao canal televisivo Fox News.
Trump critica regularmente Jeff Sessions, republicano ultra-conservador, por se ter escusado a presidir à investigação sobre a suspeita de ingerência russa nas eleições presidenciais de 2016, que decorre sob a supervisão do seu departamento.
"Enquanto eu for o procurador-geral, os atos do Departamento da Justiça não serão indevidamente influenciados por considerações políticas", disse Sessions a propósito dos comentários de Trump.
Por coincidência de agenda, os dois homens tiveram pouco depois de se sentar à mesma mesa, numa reunião na Casa Branca, mas evitaram cuidadosamente o tema, segundo o site Axios, citado pela agência noticiosa francesa AFP.
Donald Trump também falou à Fox News sobre a questão de uma eventual destituição, um procedimento situado na encruzilhada da política com o direito.
Nos Estados Unidos, o "impeachment", ou impugnação de mandato, decorre em duas etapas: primeiro, a Câmara dos Representantes deve votar uma acusação e, depois, cabe ao Senado julgar o Presidente, podendo condená-lo, por uma maioria de dois terços dos votos, ou absolvê-lo.
Esta ideia mantém-se, por enquanto, meramente hipotética, já que as duas câmaras do Congresso são republicanas e ainda leais a Donald Trump, mas nas eleições intercalares marcadas para novembro esse cenário poderá mudar.
Além disso, a questão da destituição voltou à atualidade desde que o antigo advogado pessoal de Trump, Michael Cohen, afirmou na terça-feira, sob juramento, ter comprado o silêncio de duas presumíveis amantes do multimilionário, a seu pedido, para não comprometer a sua campanha presidencial em 2016.
Cohen aceitou um acordo de negociação de pena com as autoridades, que poderá levá-lo a cooperar com o procurador especial Robert Mueller, encarregado da investigação sobre o caso da eventual ingerência russa.
No âmbito do inquérito de Mueller, o antigo diretor de campanha de Trump, Paul Manafort, foi na terça-feira considerado culpado de fraude fiscal e bancária.
Uma nova frente abriu-se na quinta-feira, com o anúncio por diversos órgãos de comunicação social norte-americanos de que o diretor do tabloide National Enquirer, David Pecker, está a colaborar com as autoridades sobre o caso das alegadas amantes.
O seu semanário tinha assegurado o exclusivo do relato de uma delas, a modelo da revista Playboy Karen McDougal, por 150.000 dólares.
Numa gravação realizada por Michael Cohen sem o conhecimento de Donald Trump, dois meses antes das presidenciais de novembro de 2016, pode ouvir-se os dois homens, Pecker e Trump, falar sobre a compra dos direitos.
"Não sei como é que se pode destituir alguém que está a fazer um ótimo trabalho", disse Trump à Fox News, a estação preferida dos conservadores.
Rudy Giuliani, advogado pessoal de Donald Trump, negou categoricamente a perspetiva de uma destituição. "Ele não esteve em conluio com os russos, ele não fez obstrução à justiça. Tudo o que Cohen disse foi desmentido. Estariam a destituí-lo apenas por razões políticas, e o povo americano revoltar-se-ia", declarou à estação televisiva britânica Sky News.
Inquirido sobre o caso de Paul Manafort, cuja sentença não é ainda conhecida mas corre o risco de ser condenado a vários anos de prisão, Trump recusou-se a dizer se está ou não a equacionar conceder-lhe um indulto presidencial.
Mas deixou-lhe ainda um elogio, depois de ter afirmado que a sua condenação era "uma vergonha" ocorrida no âmbito da "caça às bruxas" levada a cabo pelo procurador especial Robert Mueller.