Espaço Poeticamente, o Mundo parte este sábado à descoberta do mistério das auroras boreais. Para entrar na intimidade da coroa da maior das estrelas. Para tocar o Sol.
Prosaicamente, o Mundo prepara-se para a missão mais arrojada de sempre: viajar a uma rapidez nunca vista até sete vezes mais perto do Sol do que alguma vez se viajou e estudar a origem dos ventos solares e a explicação para o contrassenso de a atmosfera exterior do astro rei ser 500 vezes mais quente do que as suas chamas.
A sonda solar Parker da NASA tem hora de lançamento previsto para as 3.33 horas da Florida, EUA. Mais cinco em Portugal. Apesar de suceder a "oito anos de trabalho árduo" de "incontáveis engenheiros e cientistas", segundo Adam Szabo, do Centro Espacial Goddard, a partida é praticamente o princípio da história.
A sonda vai rasar Vénus para, com a força da sua gravidade, "ajustar o percurso e abrandar para se colocar na melhor trajetória", prevendo-se que entre na coroa no início de novembro. Depois disso e até ao final de 2024, passará sete vezes por aquele planeta, explica Andy Driesman, do Laboratório de Física Aplicada John Hopkins.
Parker terá então chegado a 6,1 milhões de km do Sol. À luz do que já se fez, escreve a NASA, vai "tocar o Sol".
À roda dele completará 24 órbitas para recolher informação sobre mecanismos que expliquem porque saem do astro os ventos solares teorizados por Eugene Parker em 1958 - daí o nome.
E que são eles? Fluxos de partículas que varrem o sistema solar, capazes de desviar satélites das suas rotas, de baralhar sistemas de GPS, de apagar luzes ou radares de regiões inteiras (deixaram o Quebeque nas trevas em 1989 e anularam todos os voos na Suécia em 2015) e de produzir a indizível beleza das auroras boreais e austrais. Que não são mais do que a mistura dessas partículas com a nossa atmosfera, quando passam frinchas do guarda-chuva magnético que nos protege.