O fumo intenso causado pelos incêndios que arrasaram grande parte de Mati, terá sido a principal causa das mortes, incluindo de um grupo de 26 pessoas que foi encontrado perto do mar, afirmou um comandante dos bombeiros.
"Penso que o principal problema foi o fumo. Ao fim de três inspirações, as pessoas ficam em dificuldade", disse o major Inanis Artopius, do 9.º regimento de bombeiros de Atenas, à agência Lusa.
O grupo estaria reunido num evento de celebração num restaurante próximo, porém, quando tentou sair da povoação pelas 19 horas, as estradas ficaram bloqueadas com carros, e decidiram fugir a pé.
O proprietário de uma casa junto ao mar abriu os grandes portões para o jardim e tentou encaminhá-los por um carreiro para uma pequena baía a cerca de 20 metros de distância, mas só alguns terão escapado, enquanto 26 ficaram para trás, desorientados pelo fumo denso.
"Vi as pessoas em grupos, abraçadas, corpos de crianças", adiantou o responsável,
Para trás ficou um cenário de destruição, incluindo de vários cadáveres de animais domésticos.
Artopius está a visitar esta quarta-feira diferentes casas para tentar encontrar eventuais desaparecidos.
"Quando à porta estão carros queimados, é sinal de que poderão estar pessoas [mortas] lá dentro", disse à Lusa.
Muito perto, Vassilis abre a porta de um automóvel parcialmente queimado para recuperar os pertences de um amigo que estava a passar férias em Mati quando foi surpreendido pelo incêndio de segunda-feira.
"Ele saltou para o mar com dois filhos, de nove e 10 anos, a mãe saltou com o filho de 14. Só os pais é que ficaram intoxicados", revelou.
Algumas pessoas que procuraram mergulhar dos rochedos com cerca de 10 metros de altura não conseguiram chegar à água, outros tiveram de esperar horas por barcos que vieram em socorro.
Localizado perto de Rafina, uma vila com cerca de 13 mil habitantes, Mati é um bairro com perto de 2300 casas envolvidas por pinheiros, a maioria segunda habitação de habitantes da capital Atenas usada para a época balnear.
Muitas habitações e árvores foram completamente destruídas pelo incêndio, carros foram esventrados pelas chamas cujas jantes de liga leve cujo calor intenso derreteram para o chão e postes de eletricidade calcinados e derrubados no chão.
Contudo, no bairro também existem habitações que não sofreram danos significativos, como a vivenda de dois andares junto ao mar de Valaselli Aspa, cujo interior foi protegido pela porta de metal que instalou há cinco meses atrás.
"O meu vizinho veio avisar-me pelas 18.30 horas e saí em pânico. Hoje tenho noção da tragédia que aconteceu: o meu carro ardeu e tenho amigos estão desaparecidos", contou à Lusa.
Residente em Mati a tempo inteiro, disse que esta época é quando a povoação ficava cheia de pessoas que vinham passar o verão.
"Este sítio era um paraíso, mas a partir de agora nunca mais ser o mesmo", lamentou.
As autoridades iniciaram as operações de limpeza com máquinas que recolhem entulho do chão, ao mesmo tempo que continuam os esforços para encontrar cerca de 100 pessoas dadas como desaparecidas.
Entretanto, o número de mortos dos incêndios na Grécia aumentou para 79, informou hoje o porta-voz do corpo de bombeiros grego, Stavrula Marli.
Os fogos causaram também mais de 180 feridos, alguns em estado crítico.
O Governo de Alexis Tsipras pediu ajuda internacional na noite de segunda-feira, tendo já alguns países respondido com meios de apoio, como foi o caso de Portugal, que anunciou o envio de 50 elementos da Força Especial de Bombeiros (FEB).
O executivo grego já desbloqueou uma verba de 20 milhões de euros, procedente do Programa de Investimento Público, destinada à ajuda imediata e a cobrir as necessidades das zonas mais afetadas.