Seis pessoas refugiaram-se num tanque com água, onde passaram grande parte da noite de sábado
O aviso é claro: "A Junta de Freguesia da Graça, concelho de Pedrógão Grande, não se responsabiliza pela qualidade da água do tanque comunitário do lugar de Nodeirinho." A água que jorra do cano para o tanque foi, porém, o que salvou a vida a Maria do Céu Silva, Carlos Madeira, Maria Pereira, João Graça, Alda Lopes e Nuno Ricardo. Enquanto o fogo consumia tudo o que encontrava à sua frente, matando 61 pessoas e ferindo outras 62 [confirmados à hora de fecho desta edição], foi naquele tanque que passaram grande parte da noite de sábado para domingo, procurando fugir a um descontrolado incêndio, transportado pelo vento. Mas nem toda a gente de Nodeirinho alcançou o tanque ou conseguiu manter a cabeça fria, ficando em casa. Só neste lugar, segundo contas da população, morreram 11 pessoas.
Carlos Madeira e Maria Pereira moram em Cascais. Na fronteira entre os lugares de Nodeirinho e Figueira têm uma casa de fim de semana. "Viemos na quinta para descansar", disse o homem. Só que o fogo travou-lhes os planos. "Quando começámos a ver tudo isto a arder, metemo-nos no carro."
O fumo e o calor intenso que se faziam sentir fizeram que "um tipo a alta velocidade me batesse no carro e seguisse". Uns metros à frente, enquanto outra viatura ardia numa ravina e os montes ardiam desenfreadamente, "entrou-me pelo carro uma senhora aos gritos pela mãe e pela neta". Ambas morreram carbonizadas. A solução foi, segundo Carlos Pereira, "entrar no carro e ir até ao tanque de Nodeirinho, onde já estavam mais pessoas". "Olhe, se há inferno, nós estivemos nele", remata a mulher, Maria Pereira, em jeito de conclusão.